Uma nova investigação, que está a ser considerada pioneira à escala mundial, pode estar prestes a encontrar uma forma de melhorar a probabilidade de sobrevivência de crianças diagnosticadas com cancro de alto risco.
Neste trabalho, os cientistas mostraram de que forma tratamentos com medicamentos mais personalizados e mais bem direcionados podem ajudar a melhorar as opções de terapia e aumentar as taxas de sobrevivência através de testes genómicos realizados ao cancro de cada paciente.
Publicadas na revista EMBO Molecular Medicine, as descobertas descrevem os resultados clínicos de 56 pacientes que participaram do Programa Zero Childhood Cancer, desenvolvido por médicos do Children’s Cancer Institute e do Sydney Children’s Hospital, ambos na Austrália.
Os investigadores analisaram o cancro de cada criança a um nível genómico para determinar o que estava a impulsionar o crescimento do cancro e de que forma a doença podia ser melhor direcionada antes de serem fornecidas recomendações de tratamento.
O Programa Zero Childhood Cancer teve tanto sucesso que será expandido, tornando-se acessível a todos os pacientes jovens com cancro diagnosticados na Austrália.
Ka’ili Giteau-Tai é uma das muitas histórias de sucesso deste programa: em 2019, com apenas 3 anos, a menina foi diagnosticada com uma forma rara de cancro, depois de os médicos terem encontrado um tumor do tamanho de um melão no seu rim.
Apesar de, inicialmente, ter respondido bem à quimioterapia e à cirurgia de remoção do tumor, Ka’ili sofreu recidiva menos de 12 meses depois.
Com apenas 30% de probabilidade de sobrevivência, Ka’ili juntou-se ao Programa Zero Childhood Cancer no início deste ano, onde os investigadores usaram análises genéticas e testes pré-clínicos para identificar um fármaco que atingisse especificamente o seu cancro.
Quase 9 meses depois, Ka’ili, hoje com 6 anos, está em remissão e já voltou para o jardim de infância.
‘Estou muito grata por tudo aquilo que fizeram pela Ka’ili. Sem esta iniciativa, muito provavelmente a minha filha não estaria aqui hoje. Foi graças ao Programa Zero Childhood Cancer que os médicos encontraram um tratamento que resultou”, disse a mãe Kristy Giteau.
Segundo Kristy, a jornada de Ka’ili “ensinou-nos muitas coisas e mudou por completo a nossa perspetiva de vida. A vida da nossa família nunca mais será a mesma depois de tudo isto. Estamos mais fortes, mais resilientes, mais focados. E, acima de tudo, hoje damos verdadeiramente valor ao que é a saúde”.
O Programa Zero Childhood Cancer encontrou novos tratamentos para 70% dos pacientes; por outro lado, 53% dos pacientes mudaram de terapia consoante a análise genética.
“Ficámos surpreendidos por descobrir que os testes pré-clínicos, em muitos casos, provaram ser ainda mais precisos do que a análise molecular na previsão da resposta do paciente à terapia recomendada”, disse o líder clínico do programa, o professor Glenn Marshall.
“Assim, mostrámos que adicionar testes pré-clínicos pode não apenas fornecer uma prova independente da eficácia do medicamento sugerida por análises moleculares, mas também ajudar a evitar o uso de tratamentos ineficazes”.
Embora nem todas as crianças tratadas com uma abordagem de medicina personalizada tenham um resultado positivo, espera-se que investigações futuras levem a mais melhorias.
“Os nossos resultados sugerem que adicionar testes pré-clínicos à plataforma de diagnóstico tem o potencial de melhorar os resultados clínicos para crianças com cancro de alto risco”, informaram os cientistas.
“Acreditamos que esta iniciativa é um grande avanço na área da oncologia pediátrica e que proporcionará uma nova esperança às crianças com cancros e às suas famílias”.
Fonte: Daily Mail