Variante genética associada a perda auditiva em crianças tratadas com quimioterapia

Investigadores da Universidade de Alberta, no Canadá, acreditam ter sido capazes de identificar uma variante genética que aumenta o risco de perda auditiva em crianças com cancro tratadas com um fármaco quimioterápico amplamente usado: a cisplatina.

Utilizando modelos baseados em células, uma equipa de investigadores liderada por Amit Bhavsar, confirmou as descobertas genómicas do estudo através de uma investigação biológica.

Devido aos avanços significativos feitos nas últimas décadas, a taxa de sobrevivência a 5 anos para o cancro infantil é agora de quase 80%. Ainda assim, são muitos os sobreviventes que sofrem complicações de saúde após a quimioterapia – a perda auditiva permanente é uma delas.

Crianças com tumores sólidos no cérebro, fígado e ossos geralmente são tratadas com cisplatina, uma quimioterapia altamente eficaz que está em uso desde a década de 1960.

As crianças são mais vulneráveis ​​às toxicidades da quimioterapia do que os adultos, e metade das crianças tratadas com cisplatina sofrem perda auditiva irreversível.

“A perda auditiva em crianças pequenas pode ter um efeito devastador no desenvolvimento da fala, nas habilidades psicossociais e no desempenho académico. Pior ainda, esta complicação afeta imenso a qualidade de vida de uma pessoa, seja qual for a idade”, disse Amit Bhavsar.

Esta investigação teve início em 2015, organizada pela PanCareLIFE. Os investigadores analisaram de que forma as variações genéticas de 770 pacientes pediátricos, oriundos da Europa e do Canadá, influenciavam a resposta à cisplatina – no total, quase um milhão de variantes foram examinadas.

Numa primeira fase, os cientistas identificaram uma variante genética no gene TCERG1L, juntamente com algumas outras variantes, que pareceu aumentar o risco de perda auditiva induzida por cisplatina.

Duas outras investigações de replicação – incluindo uma que envolveu jovens pacientes oncológicos canadianos – foram levadas a cabo, analisando essas variantes em específico: estas investigações confirmaram a associação entre a variante TCERG1L e a perda auditiva.

A equipa de Amit Bhavsar aderiu a este projeto em 2019, com a função de replicar as descobertas num ambiente de laboratório “para ver se havia uma justificativa biológica para o que tinha sido previamente observado”.

Os investigadores manipularam o gene TCERG1L em linhas de células humanas para determinar de que forma isso afetaria a resposta das células à cisplatina.

Os resultados laboratoriais corroboraram a investigação anterior, concluindo que crianças com a variante TCERG1L têm um risco 3 vezes maior de perda auditiva devido ao tratamento com cisplatina, em comparação com crianças que não possuem a variante.

Este grupo de cientistas foi o primeiro a comprovar esta ligação.

Apesar de animadoras, estas descobertas “ainda carecem de mais investigações”, explicou o cientista.

No caso do gene TCERG1L, que é um regulador da transcrição, “seria importante investigar outros genes regulados pelo TCERG1L para ver qual papel que eles desempenham na perda auditiva induzida pela cisplatina”.

“A esperança é que esta investigação abra a porta ao desenvolvimento de testes preditivos que permitirão aos médicos determinar quais os pacientes em maior risco de perda auditiva durante ou após o tratamento com cisplatina”.

“Estas informações podem mudar o tratamento ou as decisões de dosagem e, pelo menos, permitir que as crianças e as suas famílias sejam informadas com antecedência sobre os riscos”, finalizou.

Fonte: Medical Xpress

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