Enquanto tirava o seu curso de Medicina na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, Daniel Lee visitou um acampamento de férias destinado a crianças com cancro. Mas, e para grande surpresa do hoje médico, as crianças estavam felizes e confiantes no seu futuro.
A experiência levou a que Daniel tomasse duas decisões que lhe mudariam a vida para sempre: em primeiro lugar, o jovem decidiu que se iria casar com a mulher que lhe deu a conhecer o acampamento; depois, foi nessa altura que percebeu que a sua vida profissional passaria, inevitavelmente, pela oncologia pediátrica.
Atualmente, Daniel desempenha funções enquanto professor assistente de pediatria e diretor do Programa de Transplante de Células Estaminais Hematopoéticas Pediátricas da Universidade da Virgínia. Para além disso, o médico é um dos investigadores que mais tem contribuído para o desenvolvimento da imunoterapia, uma nova maneira de tratar a leucemia infantil e outros tipos de cancro.
Em 2017, o investigador viu o seu trabalho ser reconhecido pela Clinical Research Forum, um grupo que se dedica defender a necessidade da existência de mais ensaios clínicos dirigidos a crianças com cancro.
Daniel foi um dos principais impulsionadores de uma pesquisa financiada pelo National Cancer Institute, sob um programa apoiado pela Universidade Johns Hopkins.
No primeiro ano da pesquisa, o médico analisou doentes quer da Universidade Johns Hopkins quer do National Cancer Institute; no segundo ano, Daniel juntou-se a Crystal Mackall, ex-chefe do Centro de Oncologia Pediátrica do centro, para iniciar um dos primeiros ensaios clínicos de imunoterapia para crianças no mundo.
Foi Daniel quem tratou o segundo paciente do mundo com a técnica.
Durante o estudo, o cientista observou que a taxa de sobrevivência a 2 anos para as crianças com leucemia cuja doença havia recidivado era de 10%, usando o tratamento padrão. Sob os ensaios com imunoterapia, a taxa de sobrevida livre de cancro a 2 anos variou entre 60 a 70%.
“Estamos a mudar o paradigma do tratamento e o impacto que isso causa nos pacientes”, explicou o investigador.
Antes de deixar de exercer funções no National Cancer Institute e se juntar à Universidade de Virginia, Daniel tratou 52 crianças e jovens adultos.
Desde então, foram várias as empresas farmacêuticas a licenciarem a tecnologia de forma a obter a aprovação do regulador de saúde norte-americano (FDA); pelas primeira vez, crianças com leucemia refratária estão a ser tratadas com terapia de células CAR-T na Universidade da Virgínia.
O investigador está também a liderar um estudo multicêntrico – intitulado GD2 BAT – que pretende encontrar um novo tratamento para o neuroblastoma; neste estudo, as células T recolhidas de um paciente são multiplicadas e revestidas com dois anticorpos ligados. Quando devolvidos ao paciente, as células criam uma “ponte” que permite que as células modificadas eliminem as células cancerígenas.
Enquanto diretor do programa de transplante de células estaminais hematopoiéticas pediátricas, Daniel está a organizar recursos de forma a que a universidade possa fornecer os transplantes num prazo de 6 meses.
As células para os transplantes virão da medula óssea ou de outras fontes, incluindo o irmão ou pai de um paciente, um registo público de potenciais doadores ou células estaminais cordão umbilical.
Daniel doutorou-se em Química, graças a um trabalho significativo em ciências naturais e matemática; o oncologista refere Erich Uffelman, professor de química, como a pessoa que o fez apaixonar-se por química.
“Ele exalava entusiasmo. Era contagiante”, diz.
Depois de terminar o seu curto, Daniel trabalhou num laboratório de sinalização celular e foi aí que cimentou a sua decisão de seguir profissionalmente a via das investigações.
Karra, a sua esposa – a pessoa que lhe deu a conhecer o acampamento que fez nascer a paixão pela oncologia pediátrica – também trabalha na Universidade de Virgínia, enquanto assistente de no Centro Pesquisa de Cancro da instituição.
Daniel e Karra têm um filho, o pequeno Andrew, de 5 anos.
Apesar dos anos que já dedicou à sua professou, Daniel confessa continuar apaixonado pela investigação, algo que ocupa cerca de 65% do seu horário laboral.
“Existe potencial para o desenvolvimento de novas pesquisas com a terapia CAR-T. O paradigma está verdadeiramente a mudar”.
Fonte: The Columns