Um esforço internacional para tratar crianças com cancro

Nicarágua, véspera de Natal, 1986.

Fernando Silva, pediatra e poeta, era diretor de um hospital infantil em Manágua. Apesar da guerra e dos recursos limitados, o médico tentou oferecer o melhor atendimento médico possível às crianças internadas naquele hospital.

Quando uma criança com cancro era internada, Fernando Silva fazia uma cruz ao lado do nome durante as rondas, indicando que não havia nada a ser feito.

Naquela noite, estava o médico a fazer a ronda, como sempre fazia antes de ir para casa, quando uma criança o seguiu e gentilmente tocou no seu braço.

Órfã da guerra, a criança havia sido diagnosticada recentemente com leucemia.

“Feliz Natal”, disse o médico. E, com uma voz suave, a criança respondeu “Por favor, não se esqueça de mim”.

A criança morreu alguns dias depois, mas o seu pedido de ajuda ainda hoje perdura.

Anualmente, estima-se que 400 mil crianças com 14 anos, ou menos, desenvolvem cancro; dessas, cerca de metade nunca chega a ser diagnosticada.

Mais de 90% dessas crianças vivem em países em desenvolvimento, onde as infraestruturas médicas geralmente não são as adequadas.

Em ambientes com muitos recursos, como os Estados Unidos ou a Europa, a sobrevivência ao cancro infantil aumentou de 20% para 80% desde que o St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, abriu as suas portas, em 1962.

Mas o cenário continua a ser sombrio nos países com recursos limitados, onde a probabilidade de sobrevivência é muito baixa.

Infelizmente, como foi demonstrado por um projeto levado a cabo pela organização News & World Report, o cancro infantil não é uma prioridade em muitos desses países, que enfrentam muitos outros desafios.

No entanto, no St. Jude Children’s Research Hospital, cada criança com cancro é uma tratada como uma prioridade. Não podemos deixar que a triste realidade do cancro infantil nos desencoraje.

A nossa missão – que nenhuma criança morra no início da vida – significa mesmo isso: que nenhuma criança, em qualquer lugar do mundo, morra no início da sua vida.

Com a chegado dos anos 90, surgiram as primeiras parcerias para combater a doença, na América Central. Nas duas décadas seguintes, o St. Jude Children’s Research Hospital ajudou a capacitar e a formar profissionais, através de 24 programas tiveram lugar em 17 países, principalmente na América Latina, mas também no Oriente Médio, China e Filipinas.

Esses programas fizeram uma diferença significativa no atendimento prestado pelas instituições parceiras.

Mas o nosso projeto não era infalível, e cedo percebemos que seria necessário um esforço maior para diminuir as lacunas e alcançar mais crianças com cancro.

Então, em maio de 2018, lançámos o St. Jude Global, uma iniciativa que propõe que todas as crianças com cancro tenham acesso a cuidados e tratamentos de qualidade, seja qual for a sua nacionalidade. Esta iniciativa institucional concentra-se na implementação global por meio da capacitação, educação e pesquisa.

Contudo, temos que reconhecer que não podemos fazer tudo sozinhos.

Em dezembro de 2018, mais de 160 indivíduos, em representação de 123 instituições oriunds de 52 países, juntaram-se a nós, em Memphis, nos Estados Unidos, para lançar a St. Jude Global Alliance.

Esta aliança é uma colaboração de instituições com uma visão partilhada que adota uma abordagem multinível para o desenvolvimento de iniciativas globais, regionais e baseadas em hospitais.

A St. Jude Global Alliance forma uma estrutura coesa que promove o atendimento baseado em evidências em sete regiões principais: Ásia-Pacífico, América Central e do Sul, China, Mediterrâneo Oriental, Eurásia, México e África Subsaariana – juntamente com programas relacionados, incluindo cuidados intensivos, cuidados paliativos, patologia e medicina laboratorial, carga e simulação de doenças, sistemas de saúde, doenças infeciosas e enfermagem.

Queremos que este seja um verdadeiro movimento global.

É por isso que também trabalhamos em estreita colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS) que, no ano passado, designou o St. Jude Children’s Research Hospital como o primeiro Centro Colaborativo da OMS para o Cancro Infantil.

A OMS, o St. Jude Children’s Research Hospital e outros parceiros importantes lançaram a Iniciativa Global da OMS para o cancro infantil em setembro do ano passado.

O objetivo é curar 60% das crianças em todo o mundo com seis tipos mais comuns de cancro até 2030 e aliviar o sofrimento.

Com esta iniciativa global, esperamos salvar mais 1 milhão de vidas na próxima década.

Graças aos nossos parceiros globais, é agora possível levar cuidados e tratamentos de qualidade para crianças com cancro em todo o mundo.

Sabemos que isso não vai acontecer do dia para a noite; é um processo longo, que exigirá o melhor de nós, mas embarcámos neste desafio com uma promessa para todas as crianças com cancro do mundo: nós estamos a ouvir-vos, nós estamos aqui e estamos prontos.

Nós não vamos falhar.

Texto redigido por Carlos Rodriguez-Galindo, é diretor da St.Jude Global, uma iniciativa global que quer melhorar o acesso a tratamentos de qualidade para crianças com cancro

Fonte: US News

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