Dentro de um laboratório silencioso e estéril, investigadores observam um tumor cancerígeno removido do corpo do jovem Tyler Trent.
Dentro de alguns anos, décadas e séculos, alunos de medicina que estudem o osteossarcoma, um agressivo cancro ósseo, podem muito bem ter de estudar um caso em que apareçam tecidos tumorais chamados TT1 e TT2 – Tyler Trent.
Tyler deu nome aos seus tecidos tumorais quando os doou e se tornou um dos primeiros pacientes com osteossarcoma a participar no inovador programa do Riley Hospital for Children, nos Estados Unidos.
“Já houve progresso na pesquisa graças às amostras do Tyler”, disse Jamie Renbarger, uma das oncologistas que segue o jovem e chefe do programa de genómica pediátrica de precisão daquele hospital.
“Eu sinto que estou a começar a ver o meu legado ganhar vida. Estou incrivelmente agradecido por ter noção do impacto que posso vir a ter, só por ter doado os meus tumores”, confessou Tyler.
O início da luta
Foi no verão de 2014, durante um jogo de Frisbee, que Tyler sentiu uma terrível dor no braço direito. “Aquilo era o osteossarcoma a tornar o meu osso mais fraco”, afirma o jovem.
Os médicos operaram o braço e puseram-lhe uma prótese de titânio; Tyler foi declarado livre da doença. Mas em 2017, apenas quatro meses antes de ir para a universidade, o osteossarcoma retornou, com um segundo tumor na pélvis.

O jovem Tyler
“Aquela recidiva significava que o Tyler estava a lutar contra uma forma mais aprimorada da doença. E são esses tumores que retornam, os tumores recidivados, que carecem de muita pesquisa”, explica a médica Jamie Renbarger.
Enquanto Tyler e a sua família se preparavam para uma cirurgia de remoção de tumor, a equipa de médicos chefiada por Jamie conversou com o jovem sobre a possibilidade deste doar o seu tumor para uma nova investigação.
“Mesmo doente, o Tyler ficou apaixonado pela ideia de que, mesmo que não resistisse, podia fazer a algo pelas pessoas. Em vez de pensar apenas na sua jornada, o Tyler quis encontrar maneiras de ajudar pessoas que, no futuro, terão cancro.”
A importância da investigação
Na época da cirurgia de Tyler, o Riley Hospital for Children estava a começar a organizar o seu novo banco de tumores; há já alguns anos que a instituição usava tumores congelados como parte da pesquisa sobre o cancro, mas esta foi a primeira vez que estabeleceu uma pesquisa em modelos vivos.

A médica Jamie Renbarger.
Em vez de células a crescerem numa placa de Petri, este método permite que os médicos assistam ao crescimento de um tumor real, ou grandes porções de tecido do tumor, quase como se fosse num ser humano e assim testar diferentes combinações de quimioterapia, tratamentos e medicamentos.
Desta forma, os investigadores conseguem fazer o sequenciamento do tumor e tentar entender o que causa a recidiva do cancro.
O que for encontrado no osteossarcoma agressivo de Tyler pode, um dia, ser usado para elaborar um tratamento especializado para outro paciente com a doença.
“O Tyler entende a necessidade deste tipo de pesquisas e está, neste momento, a fazer campanhas de sensibilização pelo país para aumentar a consciencialização sobre a enorme necessidade de investigações sobre o cancro infantil”, disse a doutora Jamie.