As crianças que receberam radioterapia para um tumor cerebral podem desenvolver problemas cognitivos mais tarde na vida.
Agora, e através de estudos feitos em ratos, cientistas do Karolinska Institutet, na Suécia, demonstraram que o lítio pode ajudar a reverter os danos causados pelo tratamento; os investigadores deste estudo, publicado na revista Molecular Psychiatry, estão agora a planear testar as suas descobertas em ensaios clínicos.
Atualmente, 4 em cada 5 crianças com um tumor cerebral sobrevivem.
Na população sueca adulta, 1 em 600 pessoas foram tratadas para um cancro infantil, cerca de um terço dos quais eram tumores cerebrais. Muitos deles vivem com danos causados pela radioterapia, que pode causar deficiências na memória e no aprendizado.
Os investigadores demonstraram que a capacidade de memória e aprendizado dos ratos melhora se o tratamento com lítio for administrado após a irradiação do cérebro. Os ratos que foram irradiados no início da vida e depois receberam lítio, desde a adolescência até a idade adulta, tiveram um desempenho tão bom quanto os ratos que não receberam radioterapia.
Foi observado um aumento na formação de novos neurónios numa área importante para a memória (o hipocampo) durante o período em que receberam lítio, mas a sua maturidade em células nervosas completas só ocorreu quando o tratamento com lítio foi interrompido.
“A partir destes dados, concluímos que o lítio, administrado de acordo com as linhas deste modelo, pode ajudar a curar os danos causados pela radioterapia, mesmo muito tempo depois destes danos terem sido causados”, disse principal autora do estudo, Giulia Zanni.
O grupo de pesquisa mostrou anteriormente que o lítio protege contra danos cerebrais se administrado em conjunto com a radioterapia, pois pode prevenir a apoptose (morte celular).
Os investigadores querem dar início a ensaios clínicos na esperança de poder produzir o primeiro tratamento medicamentoso por danos causados pela irradiação do cérebro.
“Nos últimos anos, a oncologia pediátrica tornou-se melhor em salvar vidas, mas o custo para essas crianças é muito elevado. Praticamente todas as crianças que receberam tratamento de radiação para um tumor cerebral desenvolvem problemas cognitivos mais ou menos sérios. Isso pode causar dificuldades em aprender ou socializar e até em manter um emprego”, disse outro dos investigadores, Klas Blomgren.
“Temos de cuidar dos danos que causamos durante os tratamentos. Esse foi o objetivo do nosso estudo”.
O lítio é um fármaco que já é administrado a adultos e crianças com doença bipolar, mas os cientistas ainda não sabem ao certo como é que ele realmente funciona. No entanto, com este estudo, os cientistas conseguiram encaixar algumas peças neste quebra-cabeça; o estudo descobriu que o lítio afeta o Tppp, uma proteína importante para o citoesqueleto e o GAD65, uma proteína que afeta o sistema GABA, que é central para a maturidade neuronal.
“Estamos a começar a entender os efeitos do lítio e a sua capacidade de auxiliar o cérebro a reparar-se. Neste estudo, observámos que apenas as células irradiadas são afetadas pelo lítio. As células saudáveis foram deixadas relativamente intocadas. Este é um resultado interessante e promissor”, ressalvaram os cientistas.
Fonte: Eurekalert