As mulheres que receberam tratamento contra o cancro em idade pediátrica com um determinado tipo de quimioterapia têm um risco aumentado de desenvolver cancro da mama, de acordo com um estudo internacional de larga escala sobre sobreviventes de cancro infantil liderado por cientistas do Princess Máxima Center for Pediatric Oncology, nos Países Baixos.
Os resultados foram publicados na revista Nature Medicine e apontam para a necessidade de um rastreio precoce do cancro da mama em mulheres que foram previamente tratadas com esta quimioterapia e radiação para o cancro infantil.
Três em cada quatro crianças com cancro são tratadas com sucesso e sobrevivem à doença. Mas o tratamento, que, muitas vezes, consiste numa combinação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia, pode causar efeitos secundários graves e efeitos tardios em alguns sobreviventes. Um desses efeitos tardios é o desenvolvimento de um segundo cancro na idade adulta.
Num novo estudo, cientistas do Princess Máxima Center for Pediatric Oncology investigaram o risco de cancro da mama em mulheres que receberam tratamentos contra o cancro pediátrico com a chamada quimioterapia com antraciclinas, incluindo a doxorrubicina.
Os investigadores analisaram os registos médicos de quase 18 mil sobreviventes de cancro infantil tratados entre 1946 e 2012 na Holanda, França, Estados Unidos e Suíça. O estudo foi financiado pela Children Cancer-Free Foundation.
Risco claramente aumentado
Uma equipa internacional de investigadores, liderada pelo Prof. Leontien Kremer e pelo Dr. Jop Teepen, descobriu que 782 dos 17 903 sobreviventes avaliados foram posteriormente diagnosticados com cancro da mama. Os cientistas analisaram quais formas de tratamento estavam associadas à ocorrência posterior de cancro da mama.
As mulheres tratadas com doxorrubicina em altas doses, sem radiação no tórax, tiveram um risco quase seis vezes maior de desenvolver cancro da mama antes dos 40 anos de idade (3,4%), quando comparado com as mulheres da população em geral (0,6%).
O pequeno grupo de mulheres que receberam radiação no peito e uma dose elevada de quimioterapia com doxorrubicina quando crianças tiveram o maior risco de cancro da mama mais tarde. Nesse grupo, o risco estimado de desenvolver cancro da mama antes dos 40 anos era de 8,1%.
Rastreio do cancro da mama recomendado a mulheres que receberam dose elevada de doxorrubicina em idade pediátrica
Com base nestes resultados, os investigadores apelam ao alargamento das diretrizes para o rastreio do cancro da mama em sobreviventes de cancro infantil.
“As antraciclinas ainda são uma parte importante do tratamento de mais de metade das crianças com cancro. A dose que agora é prescrita é em média muito inferior à do passado, mas ainda há crianças que necessitam de doses elevadas destes medicamentos no seu tratamento. Já sabemos há algum tempo que as antraciclinas podem ser prejudiciais ao coração, por isso já estava clara a importância de manter baixas as doses desse tipo de quimioterapia. O desenvolvimento de um segundo cancro é um efeito tardio raro, mas grave, do tratamento do cancro infantil. Os nossos resultados sublinham a necessidade de reduzir a dose de doxorrubicina em crianças sempre que possível”, afirmou Yuehan Wang, membro do grupo Kremer do Princess Máxima Center for Pediatric Oncology.
“Trabalhamos arduamente para tornar o tratamento das crianças com cancro mais eficaz e para melhorar a qualidade de vida durante e após o tratamento. Na nossa investigação, constatámos que, felizmente, a maioria das sobreviventes não desenvolve cancro da mama numa idade jovem. Mas vários grupos de pacientes apresentam maior risco de desenvolver cancro da mama”, disse o professor Leontien Kremer, líder do grupo de investigação do Princess Máxima Center for Pediatric Oncology, e autor principal do estudo.
“As mulheres que receberam radioterapia torácica quando crianças são rastreadas para o cancro da mama a partir dos 25 anos, porque já se sabia que corriam um risco aumentado. Com base nestes novos resultados, pretendemos expandir as diretrizes internacionais para o rastreio do cancro da mama, para que as mulheres que receberam uma dose elevada de doxorrubicina também sejam rastreadas precocemente”, concluiu o investigador.
Fonte: News Medical