Teste de exercício cardiopulmonar deteta riscos cardiovasculares silenciosos comuns em sobreviventes de cancro pediátrico

O exame denominado por teste de exercício cardiopulmonar (CPET, na sigla em inglês), ou prova de esforço cardiorrespiratória, numa nova abordagem, pode detetar sinais precoces subjacentes de problemas cardiovasculares em sobreviventes de cancro pediátrico assintomáticos que não são identificados por outros tipos de ferramentas de monitorização clínica, revela uma investigação realizada pelo Nemours Children’s Health, nos Estados Unidos, publicado na revista Pediatric Cardiology.

As descobertas agora reveladas são fundamentais para todos os sobreviventes de cancro infantil que poderão apresentar um risco aumentado de distúrbios cardiovasculares graves na meia-idade.

O progresso notável realizado no tratamento do cancro pediátrico significa que, atualmente, quase 80% dos pacientes conseguem sobreviver à doença e chegar até à idade adulta, livres de cancro. No entanto, na meia-idade, muitos sofrem sérias complicações cardiovasculares que limitam a sua expetativa de vida em até 20 a 30 anos, em comparação com pessoas que nunca tiveram doença oncológica na infância/adolescência.

“Este pode ser apenas um exemplo do processo de envelhecimento prematuro que vemos nos sistemas cardiovascular e de outros órgãos de sobreviventes de cancro infantil”, explicou o principal autor do estudo, Takeshi Tsuda, cardiologista pediátrico do Nemours Children’s Health, acrescentando que “esta é uma área importante e emergente de cuidados pediátricos e investigação destinada a ajudar sobreviventes de cancro pediátrico a ter uma vida adulta plena e saudável”.

Durante esta investigação retrospetiva, foi possível verificar que uma nova abordagem com foco no teste de exercício cardiopulmonar foi capaz de identificar vários fatores por trás do baixo desempenho de exercício em sobreviventes de cancro infantil. Esse método provou ser eficaz e não invasivo para detetar anormalidades cardiovasculares assintomáticas nessa população.

“Os nossos resultados sugerem que este método simples e novo de teste de exercício pode ser uma ferramenta importante para avaliar o risco cardiovascular naqueles que sobrevivem ao cancro pediátrico”, afirmou Tsuda.

O especialista defende que esta abordagem “deve ser usada mais rotineiramente na monitorização desses pacientes, antes que qualquer sintoma apareça, dada a sua capacidade de encontrar sinais de alerta sutis que não são detetados por meio de testes padrão”.

O teste usado, o CPET Bidimensional, avalia os dados do exercício cardiopulmonar por meio de uma combinação de parâmetros de pico e submáximos, simultaneamente. Durante o estudo, os cientistas analisaram os dados de 53 sobreviventes de cancro pediátrico que receberam antraciclina durante tratamentos de quimioterapia e tiveram ecocardiogramas normais, em comparação com um grupo de controlo saudável de 60 indivíduos pareados com o grupo de sobreviventes por idade, sexo e peso.

O grupo de sobreviventes foi diversificado em termos de diagnóstico de cancro primário, tratamento (dosagem cumulativa de antraciclina, radiação e/ou transplante de medula óssea), idade no diagnóstico, anos desde a remissão e nível de atividade física basal.

Os dados apurados mostraram que os valores para o desempenho máximo do exercício foram significativamente menores nos sobreviventes de cancro infantil do que nos controlos. Os sobreviventes também apresentaram taxas de troca respiratória de pico significativamente mais altas (CO2 produzido, em comparação com o oxigénio consumido) e reservas de volume sistólico mais baixas (quantidade de sangue bombeado para fora do ventrículo esquerdo no pico de intensidade do exercício, em comparação com o repouso), sugerindo um problema fundamental na utilização de oxigénio.

Convencionalmente, os parâmetros de teste de exercício de pico têm sido considerados um padrão-ouro para avaliar a reserva cardíaca, mas o seu valor pode ser limitado quando os pacientes não conseguem atingir o estado máximo de exercício. No entanto, os dados do teste TCPE submáximos que representam respostas dinâmicas a exercícios leves a moderados podem ajudar a preencher essa lacuna, disseram os investigadores.

Os autores observaram que o fornecimento/consumo de oxigénio de pico reduzido provavelmente será um fator central entre os sobreviventes de cancro pediátrico, independentemente da disfunção ventricular identificável, ressaltando a importância crítica do TCPE na estratificação de risco de sobreviventes assintomáticos.

“Acreditamos que o TCPE é uma excelente modalidade de vigilância para rastrear pessoas com risco de doenças cardiovasculares futuras. No entanto, a maioria das diretrizes clínicas publicadas atualmente não reconhece a importância do TCPE como uma ferramenta de triagem”, destacou Tsuda. “No futuro, precisamos defender o uso do TCPE num ambiente clínico, desafiando o paradigma atual”, frisou.

Os autores sublinharam, contudo, que é necessário realizar mais estudos para confirmar se as anormalidades detetadas pelo TCPE na infância ou adolescência podem prever complicações cardiovasculares graves na idade adulta, décadas após a conclusão do tratamento oncológico.

Fonte: Dicardiology

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