Na Bélgica, há 70 mil novos casos de cancro, por ano, em adultos, em comparação com os 350 casos diagnosticados em crianças.
Devido à falta de interesse dos grupos farmacêuticos, os tratamentos para o cancro pediátrico estão a ser desenvolvidos de forma muito mais lenta do que para o cancro de adultos.
A quimioterapia recomendada para a maioria dos cancros infantis é tão tóxica quanto há 20 anos atrás; além disso, esses mesmos tratamentos têm consequências significativas para a criança: infertilidade, surdez e envelhecimento prematuro.
Após as sessões de quimioterapia, as crianças sofrem uma perda de células estaminais, que são cruciais para a cicatrização e regeneração dos tecidos.
Crianças em remissão têm uma vida inteira para viver, mas a capacidade de regeneração de seus tecidos diminuiu.
Há 15 anos que Anabelle Decottignies, docente na Universidade Católica da Lovaina, na Bélgica, e a sua equipa, estudam telómeros, os pequenos fragmentos de cromossomas que desempenham um papel vital no envelhecimento. Normalmente, os telómeros encurtam com o tempo, fazendo com que células e órgãos envelheçam.
Contudo, isso não acontece em células cancerígenas e, como resultado, estas mesmas células não envelhecem, dividindo-se indefinidamente, formando tumores e metástases.
O objetivo desta investigação foi o de atingir as células cancerígenas e proteger o resto do corpo, forçando os telómeros a encurtar e, assim, impedi-los de se dividir.
Mas, conseguir isso exige a compreensão dos mecanismos que permitem que as células cancerígenas mantenham sua eterna juventude. Na maioria dos casos, as células cancerígenas reativam a expressão de um gene embrionário. No primeiro estágio do desenvolvimento embrionário normal, as células são “eternamente jovens” graças à enzima telomerase.
Em 90% dos cancros, essa enzima pode despertar, levando a tumores e metástases.
Em 5 a 10% dos casos de cancro, a maioria envolvendo crianças, as células cancerígenas estabelecem um sistema alternativo baseado num mecanismo chamado alongamento alternativo dos telómeros; ou seja, este mecanismo não é ativado em células saudáveis, o que o torna um alvo ideal para novas terapias antitumorais.
Recentemente, a equipa de cientistas identificou uma proteína que permite a sobrevivência de células cancerígenas que usam este mecanismo, o que não é essencial para a sobrevivência de células saudáveis; o seu nome: TSPYL5.
Esta proteína é absolutamente essencial para o bom funcionamento dos telómeros das células cancerígenas que possuem o mecanismo de alongamento alternativo dos telómeros, mas não os telómeros das células que utilizam a telomerase ou as células saudáveis.
Quando a proteína TSPYL5 é removida, as células cancerígenas morrem devido à disfunção dos seus telómeros.
“Esta é a primeira vez que encontramos um alvo específico para combater células cancerígenas em crianças”, disseram os cientistas.
Desde o ano passado que os investigadores têm trabalhado com outras duas equipas para encontrar novas moléculas terapêuticas que visem a proteína TSPYL5; uma das equipas está a tentar identificar moléculas para a nova terapia, enquanto a outra está a trabalhar no sentido de sintetizará as moléculas terapêuticas para os cancros que utilizem o mecanismo de alongamento alternativo dos telómeros.
A seguir, os investigadores pretendem testar moléculas em cultura de forma a verificarem que elas eliminam as células cancerígenas do mecanismo de alongamento alternativo dos telómeros e poupam as células saudáveis.
Depois, serão realizados testes pré-clínicos em ratos; e, finalmente, ensaios clínicos crianças com doença oncológica.
Por enquanto, o primeiro grande desafio é encontrar moléculas que eliminem apenas células cancerígenas. O segundo será ter moléculas muito eficazes que não gerem resistência nas células cancerígenas.
Fonte: Eurekalert