O fumo do cigarro dos pais pode promover mutações genéticas em crianças que estão associadas ao desenvolvimento e progressão do tipo mais comum de cancro infantil, a leucemia linfoblástica aguda (LLA).
As conclusões surgem de uma pesquisa liderada pela Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos, que aponta que embora as associações mais fortes tenham sido encontradas em crianças cujos pais fumaram durante a infância das crianças, essas mutações também foram observadas na descendência de pais que podem ter parado de fumar mesmo antes da conceção.
A ligação entre a leucemia linfoblástica aguda (LLA) e o tabagismo dos pais – especialmente o tabagismo paterno – já foi estabelecida, mas este é o primeiro estudo a apontar para alterações genéticas específicas nas células tumorais de crianças com cancro, disse o coautor do estudo, Adam De Smith.
“Quanto maior a prevalência de fumo entre os pais, mais elevado o número de mutações dentro das células de LLA no diagnóstico”, revelou.
No estudo, publicado em abril de 2017 na revista Cancer Research, os cientistas da Universidade da Califórnia e os seus colegas das universidades de Berkeley, Stanford e do Sul da Califórnia, analisaram amostras de tumores de 559 pacientes recolhidos antes do tratamento pelo California Childhood Leukemia Study (Estudo de Leucemia Infantil na Califórnia), uma iniciativa que investiga as causas da doença.
Os cientistas pretendiam saber se algum dos oito genes frequentemente excluídos em todos os pacientes estariam ausentes nas amostras. Os pais preencheram questionários para descobrir se os hábitos de fumar afetaram o número de mutações genéticas, no caso concreto, deleções, que levam à perda dos genes presentes nessas regiões.
Os dados foram confirmados por um biomarcador em amostras de sangue de recém-nascidos no gene AHRR que indica a exposição ao tabagismo materno durante a gravidez.
Os cientistas descobriram que aproximadamente dois terços das amostras tumorais (353) continham pelo menos uma deleção. Estas foram consideravelmente mais comuns em crianças cujas mães tinham fumado durante a gravidez e após o nascimento.
Por cada cinco cigarros fumados diariamente durante a gravidez houve um aumento de 22% no número de deleções e para cada cinco cigarros fumados diariamente durante a amamentação houve um aumento de 74% no número de deleções.
Fumar cinco cigarros diariamente, pela mãe ou pelo pai, antes da conceção, também foi associado a um aumento 7% a 8% maior de deleções.
“Houve um efeito significativo no número de deleção nos casos em que o paciente tinha 6 anos ou menos”, disse Adam de Smith. “Os nossos resultados sugerem que o tabagismo pré-conceção paternal, que é conhecido por causar danos oxidativos ao ADN do esperma, pode levar a uma propensão maior de deleções em crianças com LLA de início mais precoce. Também é verdade que alguns dos pais que fumaram antes da conceção também continuam a fumar na presença da mãe e da criança, pelo que são necessários mais estudos para explicar o mecanismo de danos relacionados com o fumo em todos os períodos de exposição à criança”, reforça.
A pesquisa concluiu ainda que as crianças do sexo masculino eram mais sensíveis aos efeitos do tabagismo materno, incluindo o tabagismo ocorrido antes da conceção, facto que pode ser explicado pelos fetos masculinos crescerem mais rapidamente, levando a uma maior vulnerabilidade dos linfócitos em desenvolvimento às toxinas que causam danos genéticos, observaram os autores.
“O nosso estudo indica que quanto maior a exposição ao tabaco, mais danos acumulados ao ADN são evidentes nas células de LLA”, disse o autor sénior do estudo, Joseph Wiemels.
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