St. Jude: cientistas tentam compreender perfil molecular do meduloblastoma

Cientistas do St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, publicaram um artigo onde relatam detalhadamente o trabalho que tem sido realizado num ensaio clínico dirigido a pacientes pediátricos com meduloblastoma.

Publicado no Journal of Clinical Oncology, o artigo também revelou os resultados da maior análise feita até hoje sobre tumores de meduloblastoma primários e recidivados correspondentes.

Os resultados da investigação, realizada em âmbito clínico e laboratorial, ressaltam a necessidade de avaliação molecular integrada desses tumores.

O meduloblastoma está entre os tumores cerebrais pediátricos malignos mais comummente diagnosticadas; investigações anteriormente realizadas pelos cientistas do St. Jude Children’s Research Hospital já haviam diferenciado o meduloblastoma em quatro grupos moleculares distintos: WNT e SHH (que são impulsionados por mutações genéticas homónimas), Grupo 3 e Grupo 4.

O prognóstico para o meduloblastoma é diferente consoante cada grupo molecular: análises retrospetivas mostraram que os tumores WNT respondem melhor aos tratamentos, tendo uma taxa de sobrevivência a 5 anos de 95%; as taxas de sobrevivência a 5 anos para tumores SHH e do Grupo 4 são de aproximadamente 75%, valor que diminui para 60% em tumores do Grupo 3.

Para Amar Gajjar, “este foi um ensaio clínico inovador que incorporou, de forma real, a biologia à análise”; segundo o diretor do Departamento de Medicina Pediátrica da instituição, “esta investigação permitiu-nos interpretar os resultados com base nas características de risco clínico e molecular”.

O SJMB03 foi um ensaio clínico internacional de fase III dirigido a crianças recém-diagnosticadas com meduloblastoma. O ensaio envolveu pacientes nascidos entre 2003 e 2012, a quem foram fornecidas terapias adaptadas ao risco, com base nas características clínicas do tumor. A investigação também avaliou a frequência e o significado clínico de grupos moleculares e alterações genéticas através de metilação de ADN e de sequenciação topo de gama.

Ao fornecer anotações genéticas detalhadas por grupo molecular, os resultados da investigação permitiram aos cientistas identificar novos grupos de risco dentro dos grupos moleculares previamente estabelecidos: foi descoberto que todos os tumores do grupo WNT são de baixo risco; o mesmo não acontece nos restantes grupos, onde o risco pode variar entre baixo e elevado.

“Esta investigação permitiu-nos ter uma compreensão mais granular do risco de cada grupo, o que nos irá ajudar a determinar quando reduzir ou intensificar a terapia”, disse Giles Robinson, do St. Jude Oncology.

“Estas descobertas também nos permitem ajudar a organizar de forma mais eficaz futuros ensaios clínicos para o meduloblastoma”.

Ao mesmo tempo, uma investigação complementar analisou os dados do ensaio SJMB03 juntamente com os dados de outro ensaio clínico, denominado SJYC07, que envolver a análise de bebés. Com a colaboração de instituições de todo o mundo, os cientistas conseguiram reunir um conjunto significativo de amostras de tumor de meduloblastoma primário e recidivado, o que lhes permitiu aprender mais sobre as recidivas de meduloblastoma.

Aproximadamente um terço de todos os pacientes com meduloblastoma terá uma recidiva, mas a taxa de recidiva varia com base em fatores como a idade dos pacientes e o tipo de terapia que recebem.

Em particular, os investigadores descobriram que 10% dos tumores classificados como meduloblastoma recidivante são, na verdade, uma doença maligna secundária. Na maioria das vezes, esses cancros secundários, que ocorrem como resultado de um tratamento anterior, são gliomas de alto grau. O glioma de alto grau recém-diagnosticado e o meduloblastoma recidivante podem receber tratamentos diferentes.

Além disso, também se descobriu que, embora a maioria dos tumores permaneça no mesmo grupo molecular desde o diagnóstico até à recidiva, nem sempre é esse o caso. Os cientistas encontraram evidências de mudança de subgrupo entre os tumores do Grupo 3 e do Grupo 4.

Esta investigação também fornece evidências de que os tumores são mais estáveis ​​geneticamente do diagnóstico à recidiva do que se pensava anteriormente. Recorrendo à sequenciação completa do exoma, o que ajudou a examinar os genes envolvidos no cancro, os investigadores descobriram que esses genes são frequentemente retidos entre os tumores primários e recidivantes.

“Estas descobertas ressaltam a necessidade de incluir a análise molecular no diagnóstico e tratamento deste tipo de tumores”, afirmou Paul Northcott, do St. Jude Developmental Neurobiology.

Fonte: Eurekalert

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