Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que a soja pode ser bastante benéfica para a saúde, estando o seu consumo vinculado à redução de risco de doenças cardiovasculares, obesidade, cancro e melhorias na saúde óssea.
Agora, cientistas da Washington State University, nos Estados Unidos, esperam usar os benefícios desta popular leguminosa para melhorar o tratamento pós-operatório de cancros ósseos.
O estudo publicado na revista Acta Biomaterialia, realizado pelas investigadoras Naboneeta Sarkar e Susmita Bose, mostrou que a libertação lenta de compostos químicos à base de soja de uma estrutura óssea impressa em 3D resultou numa redução do número de células cancerígenas no osso; mais, esta libertação aumentou os níveis de células saudáveis e reduziu a inflamação prejudicial.
“Ainda não existe muita pesquisa acerca da utilização de compostos medicinais naturais em dispositivos biomédicos”, disse Susmita Bose.
Segundo a investigadora, “o uso destes medicamentos naturais pode fazer a diferença para a saúde humana, sendo que estes medicamentos têm poucos, ou nenhuns, efeitos secundários”.
Embora raro, o osteossarcoma ocorre com mais frequência em crianças e jovens adultos.
Apesar dos avanços médicos, os pacientes com osteossarcoma e cancro ósseo metastático apresentam uma alta taxa de recidiva.
O osteossarcoma é a segunda principal causa de morte por cancro em crianças; o tratamento envolve cirurgia para remoção do tumor, bem como quimioterapia pré e pós-operatória. Em muitos casos, existe a necessidade de remoção de grandes áreas de osso e os pacientes, de uma forma geral, apresentam uma quantidade significativa de níveis inflamatórios durante a reconstrução óssea, o que retarda a cicatrização.
Altas doses de quimioterapia antes e após a cirurgia também podem ter efeitos secundários prejudiciais.
As cientistas querem, agora, desenvolver opções de tratamento mais suaves, especialmente após a cirurgia, quando os pacientes estão em plena fase de recuperação.
“Atualmente, ao mesmo tempo que os pacientes recuperam do dano ósseo, são-lhes fornecidos medicamentos bastante fortes para suprimir o crescimento do tumor”, disse Susmita Bose, cuja equipa tem vindo a estudar a “engenharia do tecido ósseo como uma estratégia alternativa para reparar o osso”, usando princípios da ciência de materiais e técnicas avançadas para desenvolver dispositivos biomédicos eficazes.
Como parte deste estudo, os cientistas usaram a impressão 3D para fazer estruturas semelhantes às dos ossos, específicos para pacientes, que incluíam três compostos de soja e, em seguida, libertaram lentamente os compostos em amostras que continham cancro ósseo, bem como em células ósseas saudáveis.
“A soja contém isoflavonas, estrogénios derivados de plantas que comprovadamente impedem o crescimento de células cancerígenas para muitos tipos de cancro, sem serem tóxicos para as células normais”, explica o artigo.
As isoflavonas também mostraram melhorar a saúde óssea e possivelmente prevenir a osteoporose.
Um dos compostos de soja causou uma redução de 90% na viabilidade das células cancerígenas após 11 dias. Enquanto isso, dois outros compostos de soja melhoraram significativamente o crescimento de células ósseas saudáveis.
Além disso, o uso de compostos de soja em modelos animais também reduziu a inflamação, o que pode vir a beneficiar a saúde óssea, bem como a recuperação geral dos pacientes.
“Esses resultados ajudam-nos a fornecer novas abordagens terapêuticas no uso de enxertos ósseos sintéticos como um veículo de entrega de fármacos”.
Os cientistas irão agora dar continuidade a esta pesquisa, estudando as vias específicas da expressão genética de compostos naturais e os benefícios de integrá-los à tecnologia biomédica.
“Contudo, precisaremos de estudos mais detalhados”, explicou Susmita Bose.
Fonte: Eurekalert