Apesar dos importantes progressos feitos nas últimas décadas, ainda hoje crianças em algumas partes da Europa têm até 2,5 vezes mais probabilidade de morrer de cancro infantil do que os seus pares noutros países. A jornalista Sophie Fessl tentou conhecer melhor algumas das disparidades no atendimento a pacientes jovens com cancro e quais os esforços que estão a ser feitos para avançar em direção a protocolos e padrões comuns em todo o continente.
Quando a filha de Lejla Kameric foi submetida a um agressivo tratamento para um linfoma não Hodgkin, a menina de 12 anos teve que passar por punções lombares sem quaisquer preocupações com a dor.
“Há 15 anos, na Bósnia, a maioria dos procedimentos, mesmo os dolorosos, e as atividades diagnósticas eram realizados sem anestesia. Ainda hoje, os jovens médicos lutam para usar a anestesia – e só de vez em quando é que conseguem”, esclarece Lejla.
O tratamento do cancro infantil não é feito de igual forma por toda a Europa – e esta desigualdade deixa marcas tangíveis.
O estudo mais recente sobre as taxas de sobrevivência de cancro infantil na Europa mostrou que a sobrevivência era geralmente mais baixa nos países da Europa Oriental, onde a taxa de sobrevivência é entre 10% a 20% menor do que na Europa Ocidental.
Esta disparidade torna-se ainda maior quando se fala de cancros com prognósticos bastante reservados, como é o caso dos osteossarcomas. Os dados apresentados provêm do estudo Eurocare-5, datado de 2013, que analisou os resultados para crianças diagnosticadas entre 1990 e 2007.
Um quadro mais atualizado das disparidades europeias pode ser obtido a partir de um estudo de 2020 – com base em dados extraídos do banco de dados de mortalidade da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo mostrou que as taxas de mortalidade por cancro infantil diminuíram notavelmente ao longo desse período em toda a Europa (em cerca de 2,8% ao ano), com as taxas a diminuírem mais rapidamente nos países da Europa Central e Oriental. No entanto, os dados continuam a mostrar que as sérias disparidades geográficas persistem.
Os dados de mortalidade mais recentes (2014‒2016) mostram uma diferença de 2,5 vezes entre os melhores e os piores países na Europa, com as taxas mais altas ainda encontradas nos países da Europa Central e Oriental.
Resumindo, embora as taxas de mortalidade por cancro infantil sejam, em média, de 2,28 por 100 mil crianças no Noroeste da Europa, esse número aumenta em mais de 50% para uma média de 3,56 por 100 mil crianças no Centro-Leste da Europa.
Os países da União Europeia com a maior taxa de mortalidade por cancro infantil são a Roménia (3,61 por 100 mil crianças) e a Hungria (3,57 por 100 mil crianças).
Mas mesmos estas médias escondem algumas disparidades significativas dentro das amplas regiões geográficas.
Na República Checa, por exemplo, a taxa de mortalidade por cancro infantil agora é de 2,14 por 100 mil crianças – melhor do que a média do Noroeste da Europa e superada apenas por dois países europeus: Bélgica (1,98 por 100 mil) e Suíça (1,72 por 100 mil).
A disponibilidade limitada de dados, no entanto, significa que nenhuma conclusão pode ser retirada sobre as taxas de sobrevivência em alguns países do Leste Europeu, principalmente na região dos Balcãs, incluindo na Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Albânia.
Uma indicação da região dos Balcãs vem da Sérvia, onde a taxa de mortalidade é 3,74 por 100 mil crianças; apenas a Ucrânia se sai pior nesta comparação, com uma taxa média de 4,25 por 100 mil crianças.
O relatório conclui que “são necessários mais esforços para preencher esta lacuna. É obrigatório que se promova a adoção generalizada e racional dos protocolos de tratamento atualmente disponíveis”.
Fonte: Cancer World