Sobreviventes: radioterapia tem impacto na saúde cardiovascular e metabólica

Sobreviventes adultos que foram, durante a infância, diagnosticados com tumores abdominais ou pélvicos e que receberam radioterapia são mais propensos a sofrer de anomalias ao nível da composição corporal e de ter uma pior saúde cardiometabólica, quando comparados com a população em geral.

Os resultados foram publicados na revista Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention.

“Com este estudo, conseguimos mostrar que anomalias na composição corporal e deficiências cardiometabólicas são uma preocupação para os sobreviventes de cancro infantil e que devem ser monitorizadas pelos profissionais de saúde”, disse Carmen Wilson, autora do estudo e membro do departamento de Epidemiologia do St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos.

A investigadora explica que “estas condições aumentam o risco de doenças potencialmente fatais, incluindo doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2″.

Os impactos da radioterapia na saúde metabólica já haviam sido relatados anteriormente por sobreviventes de leucemia pediátrica e de tumores cerebrais, mas “os impactos em sobreviventes de tumores abdominais e pélvicos pediátricos continuavam a ser um mistério para nós”.

Na investigação, os cientistas avaliaram 431 adultos sobreviventes de tumores pediátricos abdominais ou pélvicos tinham recebido tratamento no St. Jude Children’s Research Hospital. A idade média dos participantes durante o estudo foi de 29,9 anos, sendo que a idade média dos sobreviventes na altura do diagnóstico foi de 3,6 anos.

Os tipos de cancro mais frequentemente diagnosticados entre a população analisada foram o neuroblastoma, o tumor de Wilms e tumores das células germinativas.

Aproximadamente 37% e 36% dos participantes receberam radioterapia abdominal e pélvica, respetivamente, como parte do seu tratamento.

De forma a avaliarem os impactos da radioterapia na vida dos sobreviventes, os investigadores analisaram a composição corporal, as anomalias metabólicas e a função física dos participantes tendo, de seguida, comparado esses dados com os da população em geral.

Os cientistas descobriram que, em comparação com a população em geral, “os sobreviventes de cancro infantil que participaram no estudo eram significativamente mais propensos a sofrer de resistência à insulina e a terem níveis elevados de triglicéridos”.

Por outro lado, os níveis de lipoproteínas de alta densidade, comummente referido como “colesterol bom”, eram bastante reduzidos. Não foram encontradas diferenças significativas entre os níveis de colesterol LDL, ou “colesterol mau”, entre os sobreviventes de cancro infantil analisados e a população em geral.

As análises também demonstraram que este grupo de sobreviventes tinha níveis menores de massa corporal magra do que a população em geral, o que poderá estar relacionado com as doses de radioterapia a que os sobreviventes foram sujeitos.

A massa corporal magra, que mede o conteúdo não gorduroso do corpo, “está relacionada com a taxa metabólica basal. Um indivíduo com menos massa magra queima menos calorias durante o repouso do que alguém com maiores níveis de massa magra”, explicou a investigadora.

Não se observaram diferenças significativas nos níveis de massa gorda entre os sobreviventes e a população em geral.

O estudo também observou que, entre os sobreviventes, aqueles que tinham níveis mais elevados de massa gorda tinham um pior desempenho físico e menos força do que aqueles que apresentavam níveis de massa gorda relativamente baixos.

“É possível que a radioterapia abdominal e pélvica danifique os músculos posturais ou prejudique sutilmente a produção de hormonas sexuais, o que, em última instância, afeta a massa muscular”, disse Carmen Wilson.

A investigadora explicou que, em estudos com animais, a radioterapia “já demonstrou causar lesões musculares, promovendo perda de fibra muscular e perda de células regenerativas musculares”. Ainda assim, Carmen acredita que “o estilo de vida dos sobreviventes também afeta os níveis de massa magra e a saúde cardiometabólica”.

Os resultados sugerem que pesquisas futuras devem examinar o impacto da radioterapia, e de outros tratamentos oncológicos, na distribuição de gordura pelo corpo, uma vez que o aumento da gordura abdominal demonstrou ser um melhor preditor de efeitos adversos à saúde do que a obesidade geral.

Por agora, Carmen Wilson e a sua equipa estão interessados em explorar de que forma intervenções direcionadas aos comportamentos de estilo de vida podem melhorar os níveis de massa magra e diminuir os níveis de massa gorda em sobreviventes de cancro infantil.

“Embora ainda não seja possível evitar a radioterapia, uma vez que, apesar de tudo, este continua a ser um tratamento chave para muitos tumores sólidos”, afirmou a investigadora, “já existem pesquisas que sugerem que a prática de exercício físico controlada em sobreviventes de cancro infantil pode aumentar os níveis de massa magra”.

“Resta saber se o exercício físico também tem impacto na saúde cardiometabólica destas pessoas”, conclui.

Fonte: Medical Xpress

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