Quando, a partir do ano passado, a pandemia da COVID-19 limitou os exames médicos presenciais, o Dana-Farber / Boston Children’s Cancer and Blood Disorders Center ofereceu, pela primeira vez, consultas de acompanhamento por videochamada a sobreviventes de cancro infantil.
Devido à pandemia, estas consultas virtuais foram amplamente adotadas em todo o mundo, sem que houvesse muitos dados sobre o quão eficazes seriam enquanto substitutas das consultas presenciais.
Agora, investigadores do Dana-Farber / Boston Children’s Cancer and Blood Disorders Center, através daquela que pode ser a primeira investigação a avaliar a viabilidade e recetividade das consultas por videochamadas, afirmam que profissionais de saúde, pacientes e pais ficaram muito satisfeitos com estes encontros virtuais e que muitos gostariam que esta opção se mantivesse no futuro.
“O nível de satisfação foi muito alto, mesmo quando os provedores de saúde disseram que não poder examinar os pacientes fisicamente seria uma desvantagem”, lê-se no estudo.
A maioria dos pacientes e as suas famílias foram recetivos à oportunidade de ter consultas por videochamada.
Os sobreviventes de cancro infantil são aconselhados a fazer consultas de rotina e acompanhamento ao longo da vida para que possam ser despistados problemas de saúde relacionados com o cancro; estas consultas também servem para que os médicos tenham um maior conhecimento sobre potenciais riscos de saúde que podem afetar esta população no futuro.
“Mesmo sem as restrições causadas pela pandemia, já existiam barreiras para as consultas de acompanhamento presencial. Muitos pacientes ou famílias tinham de faltar às aulas ou pedir um dia de folga do trabalho”, relembra a oncologista pediátrica, e principal autora do estudo, Lisa Kenney.
Para a investigação, publicada na revista Pediatric Blood and Cancer, os especialistas recolheram dados de prestadores de serviços médicos que realizaram 94 consultas virtuais entre abril e junho de 2020, bem como inquéritos de satisfação de 38 pacientes que participaram nessas mesmas consultas por videochamada.
A maioria dos pacientes havia sido tratada para um cancro no sangue diagnosticado na infância. A maioria dos inquiridos tinha entre 18 e 29 anos, embora 11 fossem mais jovens e 12 tivessem uma idade superior a 30 anos.
Cerca de um terço dos pacientes foram classificados como sendo de baixo risco para complicações associadas ao tratamento; um outro terço eram considerados de risco moderado e os restantes como sendo sobreviventes de alto risco.
“As consultas por videochamada deram-nos a oportunidade de continuar a observar os nossos pacientes, de continuar a fornecer-lhes cuidados de sobrevivência, incluindo avaliação contínua para possíveis complicações decorrentes do tratamento. A principal diferença entre a consultas por videochamada e as consultas presenciais foi não termos informações sobre o exame físico e não termos resultados de exames laboratoriais ou de imagem disponíveis no momento da consulta, informações que usamos de forma rotineira de forma a monitorizarmos a saúde dos nossos pacientes”.
Mas a falta desses exames não impediu os sobreviventes de receberem os cuidados necessários, até porque, “se, durante a videochamada nos apercebêssemos de algo errado, pedíamos ao paciente que se dirigisse ao hospital mais próximo, para que pudesse realizar os exames que entendêssemos serem precisos. Mas isso raramente aconteceu”, disse Lisa Kenney.
Ainda assim, os profissionais de saúde analisados afirmaram que, em cerca de metade das consultas virtuais, os seus objetivos clínicos não foram alcançados por não terem um exame físico; por outro lado, 37% dos profissionais afirmaram estar “satisfeitos” e 49% “muito satisfeitos” com as videochamadas.
Quanto aos pacientes e / ou pais ou cuidadores, 61% disseram estar totalmente satisfeitos e 34% muito satisfeitos. Além disso, 66% disseram que a consulta virtual foi quase tão útil quanto as consultas presenciais e 82% expressaram uma preferência pelas consultas virtuais em combinação com consultas presenciais.
“Tendo em conta que esta foi a nossa primeira experiência no atendimento a sobreviventes por meio de consultas virtuais, ficámos agradavelmente surpresos ao ver que os pacientes desejam que este tipo de consultas continue no futuro”.
Os autores do estudo acrescentam que mais estudos são necessários para explorar maneiras de melhorar o atendimento virtual para sobreviventes, incluindo atendimento híbrido com exames físicos e testes laboratoriais feitos por médicos de cuidados primários.
Fonte: Mirage News