Sobreviventes podem ser mais propensos a sofrer de dor crónica

Segundo um novo estudo publicado na revista Cancer, alguns sobreviventes a longo prazo de cancro infantil têm uma maior propensão a sofrer de dor crónica em adultos do que crianças que não foram diagnosticadas com cancro.

“A dor é uma condição médica debilitante que interfere em todos os aspetos da vida de um indivíduo. Aumentar a nossa compreensão sobre a dor em sobreviventes de cancro infantil e sermos capazes de identificar fatores de risco para a dor é importante para maximizar a qualidade de vida desses sobreviventes”, disse Cindy Karlson, da Universidade do Mississippi, nos Estados Unidos.

Para a investigadora, o recurso ao Childhood Cancer Survivor Study ofereceu uma oportunidade única para examinar a dor nos sobreviventes ao longo do tempo.

Cindy Karlson e os seus colegas procuraram caraterizar a prevalência e o risco da dor em 10 012 sobreviventes adultos de cancro infantil; os tipos mais comuns de cancro entre os participantes incluíram leucemia (34%), linfoma de Hodgkin (12,7%) e tumores do sistema nervoso central (12,5%).

Os cientistas também avaliaram um grupo de controlo composto por 3 173 irmãos de idades semelhantes que não tinham sido diagnosticados com cancro infantil.

Para o estudo, foi utilizada uma escala de 36 itens para derivar três resultados principais da dor – dor, interferência da dor e dor recorrente.  Os cientistas usaram a regressão logística multinomial para avaliar associações entre fatores de risco – como demografia, fatores relacionados ao cancro e sintomas psicológicos – e dor, interferência da dor e dor recorrente; as associações transversais entre fatores de risco e resultados da dor através de análises também foram utilizadas.

Quando comparados com os seus irmãos, os sobreviventes de cancro infantil tiveram uma maior incidência de dor intensa / muito intensa, uma maior interferência bastante intensa / extrema, e mais dor recorrente moderada a grave; no geral, 29% dos sobreviventes relataram sentir dor moderada a intensa, 20% relataram uma interferência moderada a extrema e 9% relataram sentir dor recorrente moderada a grave.

Durante o período de acompanhamento, os cientistas observaram que os sintomas iam piorando com o passar dos anos. Para além disso, os sobreviventes também começaram a relatar outros sintomas, como depressão e ansiedade.

Os investigadores descobriram que sobreviventes feminas de cancro infantil apresentavam um risco maior de dor grave / muito grave de ocorrência tardia e de dor recorrente moderada a grave, bem como um risco aumentado de 19% a 29% para piores trajetórias de dor e interferência da dor.

Além disso, quanto maior idade na altura do diagnóstico, maior o risco de dor de ocorrência tardia, interferência da dor e dor recorrente moderada a grave.

Sobreviventes de sarcomas demonstraram estar em maior risco de dor de ocorrência tardia grave, de interferência bastante intensa / extrema e dor recorrente moderada a grave do que os sobreviventes de leucemia.

Para cada aumento de 10 Gy na dose de quimioterapia ou de radioterapia, observou-se um aumento no risco de dor moderada na ocorrência tardia e interferência na dor; além disso, o uso de quimioterapia à base de platina apareceu associado a um risco aumentado de dor de ocorrência tardia moderada e grave e interferência da dor.

Outros fatores associados ao aumento do risco de todos os resultados de dor entre os sobreviventes incluíram depressão e ansiedade.

A ansiedade associou-se a um maior risco de dor recorrente moderada a grave, a uma piora na trajetória da dor, a uma piora na interferência da dor e a uma interferência persistente na dor.

Os cientistas também observaram associações entre o uso de antidepressivos e piores resultados de dor; segundo o estudo, é importante destacar que o uso de analgésicos pareceu estar associado a um maior risco de piores resultados de dor entre os sobreviventes.

Fonte: Healio

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