Os sobreviventes de cancro infantil têm todos os motivos para comemorar depois de experimentarem diagnósticos angustiantes e tratamentos difíceis durante os seus primeiros anos de vida.
Contudo, estudos mostram que, mesmo que fiquem curados, os sobreviventes não estão fora de perigo: os tratamentos de quimioterapia e radioterapia podem deixar esta população vulnerável a uma série de complicações mais tarde na vida, incluindo doenças cardiovasculares e cancros secundários.
Por exemplo, sobreviventes femininas de cancro infantil, mesmo que não tenham recebido radioterapia torácica, têm uma probabilidade 6 vezes maior de serem diagnosticadas com cancro da mama do que a população em geral. Para aquelas que receberam radioterapia torácica, essa probabilidade aumenta exponencialmente e é comparável à de pessoas que possuem as mutações BRCA1 ou BRCA2.
Tara Henderson, hematologista e oncologista Comer Children’s Hospital, nos Estados Unidos, e diretora do Centro de Sobreviventes de Cancro Infantil da mesma instituição, passou a sua carreira a estudar possíveis intervenções para esse grupo.
Recentemente, Tara e os seus colaboradores quiseram descobrir se as sobreviventes diagnosticadas com cancro da mama tinham a mesma taxa de mortalidade que as pacientes com cancro da mama que, até aí, não tinham tido quaisquer sintomas de cancro.
Os cientistas estudaram os casos de 274 mulheres sobreviventes de cancro infantil, diagnosticadas antes dos 21 anos, entre 1970 e 1986, que foram posteriormente diagnosticadas com cancro da mama.
Estas mulheres foram comparadas a um grupo de controlo, composto por mais de mil mulheres com cancro da mama que não haviam sido diagnosticadas com cancro infantil.
Os investigadores descobriram que as sobreviventes de cancro infantil tinham uma probabilidade ligeiramente maior de morrer por cancro da mama em comparação com o grupo de controlo; para além disso, os resultados mostraram que essas mesmas sobreviventes tinham uma propensão 5 vezes maior de morrer como resultado de outras doenças, incluindo cancros secundários e doenças cardiovasculares e pulmonares.
Os resultados deste estudo foram publicados no Journal of Clinical Oncology.
“É sabido que, em crianças que recebem tratamentos oncológicos, qualquer órgão em desenvolvimento pode ser afetado. Isso coloca os sobreviventes em risco de desenvolver insuficiência cardíaca e doenças pulmonares, juntamente com cancro. Este estudo mostrou o quão difundidos esses problemas são”, disse a investigadora.
“Estudos como este mostram a necessidade de fornecer um atendimento especializado à medida que esta população envelhece”.
Os investigadores estão agora a desenvolver um modelo de previsão de risco de cancro da mama para sobreviventes de cancro infantil; enquanto isso, Tara Henderson continua a prestar assistência a sobreviventes de cancro infantil, fornecendo vigilância e intervenções contínuas para garantir que novos problemas sejam detetados mais cedo. Isso inclui ter uma comunicação aberta com os médicos de cuidados primários dos sobreviventes, que muitas vezes desconhecem os riscos contínuos nessa população.
O objetivo final é minimizar os efeitos na saúde e identificar doenças, como o cancro da mama, precocemente.
“Queremos que os sobreviventes conheçam os riscos que correm. Isso é fundamental”, disse a investigadora.
Fonte: Medical Xpress