Crianças, adolescentes e jovens adultos sobreviventes de cancro infantil não têm um maior risco de infecção por COVID-19 e doença grave do que indivíduos sem historial de cancro, de acordo com uma investigação de base populacional publicada no Journal of Clinical Oncology.
“Estes resultados podem ser usados para dar um aconselhamento de risco apropriado aos sobreviventes e aos seus cuidadores, particularmente aqueles com trinta anos ou menos”, disse a equipa de investigadores do Hospital for Sick Children, no Canadá.
Os cientistas identificaram 12 410 indivíduos que sobreviveram por, pelo menos, 5 anos após serem diagnosticados com cancro infantil aos 17 anos, entre 1985 e 2014, ou que tinham entre 15 e 21 anos quando foram diagnosticados, entre 1992 e 2012.
Estes sobreviventes foram comparados a indivíduos sem cancro da população geral tendo em conta o ano de nascimento, o sexo e o local de residência – a 1 de janeiro de 2020, os sobreviventes tinham uma idade média de 24 anos e sobreviveram em média 14,3 anos desde o diagnóstico do cancro; uma minoria dos sobreviventes tinha sofrido uma recidiva (8,5%) ou sido diagnosticados com um segundo cancro (1,6%).
Os sobreviventes e o grupo de controlo foram acompanhados até 31 de julho de 2021.
A análise de bancos de dados laboratoriais e de saúde de base populacional revelou que os sobreviventes eram significativamente mais propensos do que os controlos a terem sido submetidos a, pelo menos, um teste de PCR SARS-CoV-2 (41,6 em comparação com 35,4%, respetivamente); ainda assim, a taxa de testes de PCR positivos para infecção por COVID-19 foi semelhante nos dois grupos (3,1% e 3,2%, respectivamente).
Os sobreviventes de cancro foram 1,23 vezes mais propensos a serem totalmente vacinados do que os controlos (52,8% e 47,0%, respetivamente) – este dado foi definido como tendo recebido pelo menos uma dose da vacina Johnson & Johnson, ou pelo menos duas doses da vacina Pfizer–BioNTech, Moderna ou Oxford–AstraZeneca, pelo menos 2 semanas antes da infecção.
“Não foram observadas diferenças nos resultados de gravidade dos sintomas entre os sobreviventes infetados e os controlos infetados”, explicaram os cientistas.
Os sobreviventes e os controlos tiveram taxas comparáveis de hospitalização (2,8% e 1,7%, respetivamente).
Além disso, não houve internamentos em unidades de cuidados intensivos ou mortes entre os sobreviventes de cancro, o que foi descrito como “uma notícia muito reconfortante” pelos cientistas.
Ao observarem que algumas investigações realizadas em pacientes com cancro mais velhos sugeriram um risco aumentado de infeção grave por COVID-19, os cientistas sugerem que “a proteção oferecida pela idade relativamente jovem da nossa corte de sobreviventes (idade média de 24 anos, com idade máxima de 51 anos) supera qualquer risco associado à sobrevivência ao cancro.”
Ainda assim, os autores ressalvam que a recolha de dados foi feita antes das variantes SARS-CoV-2 Delta e Omicron se terem tornado dominantes, pelo menos no Canadá, pelo que as descobertas “podem não ser generalizáveis” para todas as variantes.
“São necessárias mais investigações para determinar o risco em sobreviventes mais velhos, subconjuntos específicos de sobreviventes e aqueles associados às novas variantes da COVID-19”, concluíram os investigadores.
Fonte: MedWire News