O diagnóstico e o tratamento do cancro podem ser um ponto de partida para outras coisas más, como a ansiedade, a depressão e o transtorno de stress pós-traumático.
Eu sei do que falo, porque também eu sou um sobrevivente de cancro infantil. Também eu tive que lidar com todas estas coisas.
Mas o que eu não sabia é que também os pais e os cuidadores de crianças com doença oncológica podem sofrer destas mesmas condições.
Só quando, recentemente, vi uma entrevista dada por Nathan Hagstrom, oncologista pediátrico, é que me apercebi que os pais de crianças com cancro infantil também podem sofrer de transtorno de stress pós-traumático.
E, pensando bem, o que ouvi naquele dia não me deveria ter surpreendido.
“No mundo da oncologia, quer estejamos a falar de doentes adultos, crianças, de pais ou de cuidadores, aqueles que mais comummente experimentam sintomas de transtorno de stress pós-traumático são as mães e pais de crianças que têm, ou tivera, cancro”, disse Nathan Hagstrom.
Quando ouvi estas palavras, lembrei-me de todas as vezes que achei que a minha mãe era uma mulher demasiado preocupada, quase louca.
Bem, a verdade é que se calhar ele é um bocadinho louca e demasiado preocupada, mas depois de ouvir o testemunho daquele médico, percebi que ela era assim porque havia um motivo.
Caramba, ela enfrentou comigo, por 4 vezes, o cancro e tudo aquilo que vem com ele; desde os primeiros dias de tratamento, quando eu tinha 6 anos, passando pelos múltiplos episódios de taquicardia ventricular, pelas infeções, pelas inúmeras vezes em que tive de ir de urgência para o hospital.
E de repente, ocorreu-me o seguinte: será que tormento do transtorno de stress pós-traumático dos pais alguma vez desaparece? Ou é algo que fica para sempre?
“Apesar de os sintomas diminuírem com o passar do tempo, muitas mães, e pais, continuam a apresentar sintomas de transtorno de stress pós-traumático vários anos depois de os seus filhos serem considerados livre de cancro”, explicou, naquela entrevista, o Dr. Hagstrom.
Estava dada a resposta.
Portanto, parece que o transtorno de stress pós-traumático que afeta pais de crianças com cancro pode diminuir com o tempo. Mas, e com base na minha experiência e na minha mãe, não acredito que desapareça por completo.
“Pessoas com cancro e sobreviventes de cancro que têm transtorno de stress pós-traumático precisam de ajuda porque esse mesmo transtorno pode impedi-los de fazer os exames e os tratamentos necessários”, li eu, depois de ver a entrevista.
Por isso, se as pessoas que me estiverem a ler agora forem um paciente, um sobrevivente ou um cuidador, não deixem que a ansiedade, a depressão ou o transtorno de stress pós-traumático tome conta de vocês.
Não há necessidade. Vocês não estão sozinhos. Peçam ajuda, deem o primeiro passo, e desta forma podem receber a ajuda que merecem.
Texto redigido por Ryan Hamner, um sobrevivente, por 4 vezes, de linfoma de Hodgkin, músico e escritor.
Em 2011, Ryan escreveu e gravou “Where Hope Lives” para a American Cancer Society e, em 2015, a música “Survivors Survive”, dedicada a todos os sobreviventes de cancro.
Mais recentemente, Ryan publicou o seu primeiro livro, intitulado “This is Remission: Four-Time Cancer Survivor’s Memories of Treatment, Struggle e Life”.
Fonte: Cure Today