Um estudo recente que avaliou o estado de saúde de sobreviventes com cancro mostra a necessidade dos médicos terem que considerar o bem-estar geral deste grupo para a vida.
Mais crianças sobrevivem agora ao cancro e passam a viver muito mais anos, ou mesmo décadas, na idade adulta. No entanto, os efeitos tardios – incluindo segundos tumores, dor nas costas debilitante, infertilidade e derrames – podem tornar a vida após o cancro infantil uma luta diária repleta de sofrimento crónico e psicológico.
O reconhecimento dos efeitos tardios levou a mudanças nas estratégias de tratamento do cancro pediátrico, resultando em reduções significativas na mortalidade e na proporção de condições de saúde crónicas graves, incapacitantes ou com risco de vida entre os sobreviventes.
Mas um novo estudo sobre adultos sobreviventes de cancro pediátrico encontrou, no entanto, que, embora as condições de saúde crónica tenham sido reduzidas, a taxa de auto-perceção dos seus problemas de saúde aumentou.
Um estudo recente publicado na revista Annals of Internal Medicine comparou o estado de saúde de 14 566 adultos sobreviventes de cancro pediátrico com base na década de tratamento. De acordo com a co-primeira autora do estudo, Kirsten Ness, do departamento de epidemiologia e controlo do cancro no Hospital de Pesquisa Pediátrico St. Jude, nos Estados Unidos, a expectativa inicial era de que os mais recentes tratamentos iriam melhorar a saúde, “e isso não é o que encontramos”.
De facto, os autores do estudo escreveram que em “comparação com os sobreviventes diagnosticados de 1970 a 1979, os diagnosticados entre 1990 e 1999 foram mais propensos a relatar uma saúde geral deficiente (11,2% vs 13,7%) e ansiedade relacionada com o cancro (13,3% vs 15%)”.
O estudo também relatou que os sucessivos grupos de sobreviventes relataram um notável declínio na proporção de grau 3 ou 4 sobre as condições de saúde crónica.
O estudo ofereceu uma variedade de potenciais explicações para o declínio no bem-estar relatado, incluindo o facto de que, graças aos avanços nos tratamentos, 80% das crianças diagnosticadas com cancro vivem para se tornar sobreviventes de longo prazo.
“Nós temos sobreviventes agora que não teriam sobrevivido, mas eles não são necessariamente tao saudáveis quanto se esperava, porque tinham talvez uma doença mais grave ou uma doença de alto risco”, que os obriga a obter “mais terapia com mais efeitos tardios”, disse Kirsten Ness.
Os sobreviventes, sugere a investigação, “podem ser aqueles que, em média, relatariam piores resultados de saúde posteriores”.
Outra possível explicação, de acordo com a investigadora, é que os sobreviventes se tornaram acostumados a ser objeto de estudos de acompanhamento e a responder a perguntas sobre a sua saúde.
Os efeitos tardios do tratamento para o cancro infantil são há muito conhecidos. Em comparação com os seus irmãos, os sobreviventes têm uma probabilidade consideravelmente mais elevada de sofrer de condições de saúde crónicas.
Outros estudos descobriram que os sobreviventes de cancro pediátrico têm uma expectativa de vida mais curta do que os seus pares. Um estudo de 2010 descobriu que “aproximadamente um em cada quatro sobreviventes pode morrer de recorrência tardia ou efeitos tardios relacionados com o cancro secundário e condições cardiopulmonares e um em cada 20 de outro risco”.
As causas, refere a pesquisa, são frequentemente relacionadas com a própria terapia usada para combater o cancro inicial.
Essa realidade levou a mudanças nas estratégias de tratamento para reduzir as toxicidades. Por exemplo, oncologistas pediátricos reduziram o uso e as doses de radioterapia e antraciclinas para o tratamento da leucemia linfoblástica aguda (LLA), linfoma de Hodgkin e tumor de Wilms.
Apesar das melhorias que têm sido implementadas, os resultados desta pesquisa recente sobre a auto-perceção do estado de saúde mostra a necessidade dos médicos considerarem o bem-estar geral de sobreviventes de cancro pediátrico, para a vida.
“Muitos dos cuidados para os sobreviventes não são deixados nas mãos do oncologista pediátrico, mas sim do prestador de cuidados primários”, disse Kirsten Ness. “Espero que a transferência da criança para estes cuidadores seja feita de forma correta e, em seguida, que haja uma orientação do provedor de cuidados primários para que este garanta que essas pessoas têm um acompanhamento adequado”, reforçou.
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