Risco cardiovascular – Exercício “protege” sobreviventes de cancro pediátrico

Uma nova pesquisa da Universidade de Alberta vem mostrar que sobreviventes de cancro pediátrico podem desenvolver patologias cardiovasculares mais cedo. Mas a investigação aponta o exercício físico, através de programa de reabilitação, como o caminho certo para antecipar e prevenir doenças.

Duas alunas da licenciatura da Faculdade de Enfermagem dessa Universidade canadiana, Kaitlyn Weinkauf e Emma Fyfe, quiseram perceber por que razão os sobreviventes de cancro pediátrico são mais propensos a desenvolver problemas cardiovasculares mais tarde na vida. E o que poderia ser feito para atenuar os efeitos nocivos de tratamentos contra o cancro – como a quimioterapia com antraciclinas – que estão na origem do risco mais elevado?

Risco de insuficiência cardíaca cinco a oito vezes superior

“A quimioterapia e a radiação podem atingir as células cancerígenas, mas também causar danos e envelhecimento de outros sistemas do corpo”, explica Stephen Foulkes, pós-doutorando da Faculdade de Enfermagem e orientador do estudo. “Um dos sistemas que pode ser afetado é o sistema cardiovascular”. Como consequência, pode levar à prematura insuficiência cardíaca.

“Comparando estudos que acompanharam as gerações mais antigas e mais recentes de sobreviventes de cancro que foram expostos a estas terapias contra o cancro, descobrimos que o risco de desenvolverem outras patologias como a doença arterial coronária – particularmente a insuficiência cardíaca – é muito maior do que o dos seus irmãos ou de outras crianças da sua geração”, diz Foulkes.

“O risco de insuficiência cardíaca pode ser cinco a oito vezes superior, mesmo aos 40 anos de idade, enquanto o doente típico com insuficiência cardíaca não é afetado até aos 60 a 80 anos de idade.”

Revisão de estudos permitiu comparar aptidão cardiorrespiratória

Com base nesta informação, Weinkauf e Fyfe fizeram uma revisão de estudos que comparavam a aptidão cardiorrespiratória de sobreviventes de cancro infantil com a dos seus pares sem cancro. Analisaram 18 estudos de 796 sobreviventes de cancro com 1.379 pares saudáveis do mesmo sexo e idade. “Há toneladas de pesquisas primárias”, diz Fyfe, “o que é ótimo para sintetizar e tornar o impacto mais assimilável, dando-lhe um número.”

Para serem considerados nesta análise, os estudos tinham de medir o pico de consumo de oxigénio – a quantidade máxima de oxigénio que uma pessoa pode utilizar durante o exercício. “É a medida padrão de ouro da aptidão cardiorrespiratória e um dos mais fortes indicadores do risco de desenvolver ou morrer de doenças cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca”, observa Foulkes.

Aptidão cardiorrespiratória inferior

Descobriram que o nível médio de aptidão cardiorrespiratória entre os sobreviventes de cancro pediátrico era significativamente inferior ao dos seus pares – o equivalente a cerca de 15 anos de envelhecimento cardiovascular acelerado. As estudantes concluíram que o pico de consumo de oxigénio nos sobreviventes de cancro pediátrico é nitidamente inferior, o que pode explicar o risco acrescido de insuficiência cardíaca e mortalidade cardiovascular. Weinkauf e Fyfe sugerem que a inclusão da medição do pico de consumo de oxigénio entre os sobreviventes de cancro pediátrico pode facilitar a identificação de quem está em risco de desenvolver problemas cardiovasculares e encaminhá-los para um programa de reabilitação.

A receita para diminuir a lacuna do condicionamento físico

O exercício regular é uma das melhores maneiras de melhorar a aptidão física e Foulkes sugere que os resultados do estudo destacam uma necessidade crítica de programas de reabilitação de exercício para sobreviventes de cancro, a fim de diminuir a lacuna de condicionamento físico. Os programas de reabilitação podem incluir exercícios de estilo cardio, como ciclismo, remo, caminhada e corrida, mas também garantir que as pessoas levantem pesos duas ou três vezes por semana num nível moderado a desafiador.

Foulkes apresentou as conclusões desta investigação no final de abril, no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia Preventiva, em Atenas. “Muitos dos cardiologistas da plateia que trabalham com estes pacientes ficaram bastante chocados ao perceber o quão grande era a diferença.”

Mas, como aponta Foulkes, a força de uma métrica como a aptidão cardiorrespiratória, que meça o quão bem o sistema cardiovascular funciona sob stresse, pode ajudar a desmascarar problemas subtis que não são aparentes quando a função cardíaca ou a pressão arterial são medidas em repouso.

 

Fonte: Medical Express

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