Responsável da Pediatria do IPO de Lisboa sublinha importância de incutir nas crianças “outras dimensões do seu universo”

Numa entrevista ao jornal Diário de Notícias, Filomena Pereira, diretora do serviço de Pediatria do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil de Lisboa (IPO de Lisboa) abriu as portas do serviço e deu a conhecer um pouco do dia a dia dos médicos que diariamente lidam com a problemática do cancro infantil.
Para a médica, responsável por aquele serviço desde 2009, é fundamental que se consiga “anular” a violência que representa o cancro infantil para estas crianças e pais, através da boa disposição e de uma boa dose de ternura e carinho, procurando incutir-lhes “outras dimensões do seu universo” e estimulando, entre outras coisas, “a coquetterie das miúdas, e nos rapazes as roupas de cores abertas, o estar bonitos”. 
Ao seu lado trabalham outros nove médicos, um número claramente reduzido para um serviço que recebe 200 novos casos por ano e mais de 400 crianças em tratamento ativo de cada vez. Atualmente, Portugal não tem uma especialidade de oncologia pediátrica, por isso, depois de terminada a formação em pediatria é feita uma formação de dois ou três anos no IPO. 
A Pediatria do IPO de Lisboa conta atualmente com cerca de 800 DUROS – Doentes que Ultrapassaram a Realidade Oncológica com Sucesso. Desde que foi criado em 2007, este serviço acompanha crianças que deixaram os tratamentos há mais de cinco anos mas, atualmente, o serviço tem passado por algumas dificuldades, no sentido em que não tem capacidade para seguir todos os sobreviventes, “temos de fazer uma triagem dos de maior risco e tentar disseminar o seguimento destes doentes pelas unidades de saúde de proximidade”.
Para colmatar a escassez de acompanhamento no próprio IPO, o instituto tem procurado, desde 2005, centrar estes cuidados nos centros de saúde, com os quais partilham, muitas vezes, “o seguimento de doentes em tratamento, incluindo os terminais”. 
Filomena Pereira reforça que em várias regiões foi dada formação clínica específica para que, por exemplo, no caso dos DUROS, cada doente tenha um plano individual de vigilância e possa ser acompanhado por profissionais formados, que estão em permanente contacto com o instituto. 
Apesar das dificuldades, a responsável sublinha que o balanço e as alterações feitas nesta área são notáveis: “assisti em 30 anos a coisas fantásticas, não só uma alteração brutal da taxa de sobrevivência mas a alterações na qualidade de vida dos doentes”.
“Somos um bocadinho bruxos e anjos ao mesmo tempo”, reforça, lembrando que a pediatria do IPO é claramente “um universo à parte do quotidiano, da vida civil”, e, por isso, “há muitos pais de meninos que perdemos que continuam a vir cá para conversar” pois não obtêm respostas fora deste universo.
A perda de uma criança é sempre encarada com grande tristeza: “lembro-me de todos os que perdi. São familiares, de certa forma. Quando começo a ter noção de que vou perder um doente, a minha atenção afetiva dirige-se mais para os pais. É uma “ajuda” à perda, estratégias individuais. Há uns que nos doem mais, uns são mais derrota… Mesmo assim, temos uma taxa de sobrevivência, aos cinco anos, acima dos 80%”, explica.
Este artigo foi úlil para si?
SimNão

Deixe um comentário

Newsletter