Renascer das cinzas: Camp Okizu, um local onde se juntam famílias de crianças com cancro

Em setembro de 2020, um incêndio florestal na Califórnia, atingiu o condado de Butte, matando 16 residentes e dizimando mais de 2 mil estruturas.

Entre as estruturas destruídas pelo incêndio incluía-se o Camp Okizu, um refúgio com mais de 200 hectares destinado a apoiar famílias de crianças com cancro infantil; fundado em 1981, este refúgio oferecia retiros para famílias cujos filhos haviam sido tratados em hospitais em todo o norte da Califórnia.

De entre as várias atividades, as famílias que por ali passavam podiam dedicar o seu tempo a caminhadas, canoagem e teatros.

Em 2017, pouco tempo antes de falecer, Arthur Ablin, ex-chefe de oncologia pediátrica da Universidade da Califórnia, e a sua esposa doaram mais de 1 milhão de dólares (cerca de 830 mil euros) para pagar a hipoteca do Camp Okizu, que o médico havia ajudado a fundar.

Em tempos, referindo-se ao Camp Okizu, Arthur disse que “quem investe neste espaço, não recebe dividendos monetários, mas sim dividendos sentimentais, que é o melhor que levamos desta vida”.

O Camp Okizu, depois de ter sido devastado pelos incêndios. – Fonte: DR

O médico explicava que, naquele campo, existia uma relação única entre os voluntários e as famílias que tinham criaram um ambiente acolhedor para todos aqueles que lutavam, ou tinham lutado, contra o cancro infantil.

Hoje, foi esse mesmo espírito de entreajuda que levou centenas de pessoas a organizarem várias campanhas de angariação de fundos para reconstruir o Camp Okizu, para que todos aqueles que dele precisam possam contar com o seu apoio.

Para a família Stewart, a destruição daquele refúgio significou “perder o nosso lugar seguro, que tão bem nos acolheu depois da morte do nosso filho Peter”, contou April, a mãe do menino.

Peter morreu em outubro de 2015, quando tinha apenas 8 anos, vítima de um tumor cerebral.

“Tivemos conhecimento do Camp Okizu pelos médicos que trataram o Peter. Explicaram-nos que aquele era um local onde seríamos incentivados a falar sobre a nossa experiência, onde conheceríamos pessoas percursos parecidos ao nosso. De uma forma geral, na vida quotidiana, os pais enlutados não são incentivados a falar sobre os filhos que morrem, mas isso não acontece no Camp Okizu. Ali, a história das crianças, sobreviventes ou não, é valorizada”.

Para April, aquele refúgio é um local “para o qual nenhum pai quer ser elegível, mas que oferece uma tábua de salvação inestimável”.

A família Stewart, pouco tempo depois de Peter ser diagnosticado. – Fonte: DR

A primeira vez da família Stewart no Camp Okizu aconteceu 6 meses após a morte de Peter; a decisão de irem não foi nada fácil para April que, se por um lado sabia que aquela experiência poderia ser boa para a família, em especial para Anna, a irmã de Peter, por outro, não queria ter de expor os seus sentimentos a pessoas que não conhecíamos.

“Mas fomos, e no momento em que eu cheguei, comecei a chorar. É complicado conseguir explicar, mas senti-me em casa. Senti-me segura”.

À chegada, Anna, April e o seu marido foram apresentados a outras famílias, todas com muitas histórias para contar.

“Falámos de tudo, dos primeiros sintomas, do diagnóstico, da ansiedade, da progressão da doença, das dores dos tratamentos, e, infelizmente, dos últimos dias dos nossos filhos. Chorámos, rimos, demos e recebemos muito apoio. Quando nos viemos embora, sentíamo-nos menos sozinhos, mais leves”.

Antes do incêndio, a pandemia já havia afetado muito o Camp Okizu, que teve de iniciar encontros virtuais para substituir os encontros presenciais, onde se chegaram a juntar mais de 3 mil participantes, em 2019.

“Até que seja seguro reunirmo-nos pessoalmente, iremos oferecer vários programas virtuais para apoiar crianças com cancro e as suas famílias. Assim que pudermos estar todos juntos, iremos fazê-lo! Já estamos a planear parcerias com hotéis para que, juntos, possamos reconstruir o nosso Camp Okizu”, disse Suzie Randall, a diretora da organização.

Desde os fogos, já foram angariados mais de 270 mil dólares (cerca de 224 mil euros) para recuperar as instalações do Camp Okizu.

Uma das pessoas que mais tem contribuído para este movimento, e que espera poder ajudar a reconstruir aquele refúgio, é Robert Goldsby, um médico pediatra que conheceu o Camp Okizu pela mão do seu mentor, Arthur Ablin.

Robert Goldsby é voluntário no Camp Okizu há mais de 20 anos. – Fonte: DR

“Na altura, ser voluntário aqui, tornou-me uma pessoa melhor, um médico melhor. Já se passaram 20 anos desde que aqui entrei, e nunca mais deixei de trabalhar em prol do Camp Okizu”.

“Este local é um local de cura. Por isso é tão importante que nos unamos para o reconstruir”, diz.

Fonte: Universidade da Califórnia

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