#removelabels, a nova campanha da Youth Cancer Europe

Eu sou mais do que uma sobrevivente de cancro, mas desde que fui diagnosticada com um Linfoma de Hodgkin aos 15 anos, as pessoas não conseguem ver para além do meu historial médico.

Antes do cancro, eu era tratada como uma adolescente normal.

A minha mãe tinha tido um cancro alguns anos antes de eu ter sido diagnosticada, e isso foi um processo muito difícil que eu consegui ultrapassar graças ao meu grupo de amigos; mas quando eu recebi o diagnóstico de cancro, tudo mudou.

Eu deixei de ser a Fay para ser a “rapariga que tem cancro”.

Até a minha prima, que tem quase a mesma idade que eu, era questionada sobre “como está a tua prima com cancro?”.

Para mim, isso mostra o quanto o cancro afeta mais do que apenas uma pessoa.

Eu sei, e entendo, que as pessoas têm boas intenções, que querem proteger os doentes, principalmente quando são crianças com cancro, mas quando me disseram que eu tinha de deixar de fazer as coisas que eu gostava, foi como um murro no estômago.

Fez-me sentir diminuída.

Fonte: Youth Cancer Europe

Eu estava determinada a fazer os meus testes da escola, mesmo depois de os médicos me terem aconselhado a esquecer a escola durante um ano; embora esse conselho tenha sido dado com boas intenções, eu senti que os padrões em relação a mim tinham mudado.

Era quase como se eu não pudesse querer ter melhores notas ou tirar o máximo proveito de mim porque tinha cancro.

A minha voz parecia muito pequena, especialmente em torno de adultos que pensavam que sabiam o que era melhor para mim, sem realmente me consultar.

Ainda hoje, numa altura em que os adolescentes de 15 anos, como eu tinha na altura, têm tanta independência, tudo muda quando são diagnosticados com cancro. Parece que voltamos a ser bebés e não sabemos, ou não podemos, tomar as nossas próprias decisões.

As pessoas são mais do que seu historial médico.

Eu tenho a sorte de nunca ter desistido daquilo que queria fazer e, embora no princípio tivessem as suas reservas, a minha família deixou-me ser eu própria.

Tenho a certeza que, se não tivesse insistido para continuar a estudar mesmo durante os tratamentos, se tivesse aceitado o rótulo de “a rapariga com cancro”, não estaria hoje na universidade. Mais importante, não me sentiria realizada.

Na altura, deixei a escola que sempre frequentei para conseguir sentir-me livre das expetativas que as pessoas punham sobre mim. E estou tão feliz por o ter feito.

Ser rotulada, colocada numa caixa, sufoca a capacidade de uma pessoa descobrir-se a si própria.

Hoje sei que as minhas paixões são o voluntariado e a escrita. E é sobre isso que falo quando conheço pessoas novas, especialmente agora que estou na universidade.

O meu tempo na escola ensinou-me que é melhor não “levantar ondas” e dizer que se é sobrevivente de cancro infantil. Não que sinta vergonha, sinto orgulho de ser uma sobrevivente, mas não preciso dos olhares de pena.

Na única ocasião em que falei aos meus amigos da universidade sobre isso, depois de ter faltado a uma palestras por causa de uma consulta, todos eles ficaram em silêncio, sem saber o que dizer. Fui eu que os tranquilizei e disse que estava tudo bem. Por um segundo, reparei nos olhares deles a mudarem, e disse-lhes logo que era isso que não queria: que me olhassem de uma maneira diferente.

Agora que sou adulta, quando as pessoas sabem que sou sobrevivente de cancro infantil, inundam-me com perguntas sobre a doença. Não me importo, e respondo a todas, mas não preciso que digam que sou “inspiradora”, porque não o sou.

Outra situação caricata foi quando uma amiga me disse que tinha de ver um filme porque a protagonista também tinha tido um cancro infantil.

Ri-me.

Ri-me porque, felizmente, tenho força suficiente para suportar e não levar a mal essas observações.

Mas preocupo-me com os outros sobreviventes, que não querem ser rotulados como tal, que não querem falar de cancro, que querem esquecer que tiveram essa doença.

Espero que nos próximos anos possa haver mais compreensão e apoio para aqueles cujas vidas foram alteradas pelo cancro, mas que não querem ser definidas por ele.

Os sobreviventes de cancro infantil podem ter passado por algo horrível, mas ainda têm habilidades, sonhos e ambições, e muitas vezes só precisam que os outros os parem de rotular.

As atitudes das outras pessoas, mesmo que sejam sem maldade, afetam.

Por isso, juntei-me à campanha #removelabels, da Youth Cancer Europe, porque sou mais do que um rótulo, mais do que o meu historial médico, mais do que “uma sobrevivente de cancro”.

Texto redigido por Fay Turner-Paxton, escritora e voluntária

Fonte: Metro UK

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