Reino Unido: pandemia gerou “atrasos graves” no diagnóstico precoce de cancro infantil

Especialistas em saúde alertaram para os atrasos “graves” no diagnóstico de cancro pediátrico, após uma investigação ter revelado que o número de diagnósticos diminuiu bastante tendo em conta o que seria expectável.

Dados revelados pela Universidade de Oxford mostraram a existência de uma “redução substancial na deteção de cancro em crianças, adolescentes e jovens adultos durante o ano passado” no Reino Unido.

A investigação, apresentada durante o congresso do National Cancer Research Institute (NCRI), mostrou uma diminuição de 17% nos diagnósticos no ano passado em comparação com os anos anteriores.

“O impacto da COVID-19, a todos os níveis, em adultos com cancro já bem conhecido; mas o mesmo não se pode dizer sobre o seu impacto em pacientes mais jovens”, disseram os cientistas.

Tal como a diminuição no número total de crianças com cancro, os investigadores também descobriram que mesmo aquelas cuja doença foi diagnosticada nos últimos anos tinham uma maior probabilidade de terem sido submetidas a terapia intensiva após longos períodos – “isso”, dizem, “sugere que os longos atrasos no acesso aos cuidados de saúde podem tê-los deixado muito mais doentes”.

“Até agora, havia evidências limitadas sobre o impacto da pandemia no diagnóstico de cancro em crianças e jovens. Muitas vezes, os jovens com cancro são esquecidos ou negligenciados, especialmente no que toca à recolha de dados, e isso torna-os quase invisíveis para o sistema”, disse Kate Collins, diretora da Teenage Cancer Trust.

“Mesmo antes da pandemia, já haviam dados que nos mostravam que o caminho para o diagnóstico dos jovens era longo e complicado. E isso é muito preocupante, porque o diagnóstico precoce pode salvar vidas”.

“O fato de a pandemia ter atrasado o diagnóstico é uma enorme preocupação e é essencial entender não apenas as razões pelas quais a pandemia afetou o diagnóstico, mas o impacto que isso está a ter em crianças e jovens com cancro.”

Os investigadores da Universidade de Oxford analisaram dados obtidos entre 1 de fevereiro e 15 de agosto de 2020 e compararam-nos com dados referentes ao mesmo período de 2017, ou seja, antes da pandemia.

Um total de 380 cancros foram diagnosticados em crianças e jovens durante este período de seis meses e meio em 2020 – a investigação concluiu que houve uma redução de 17% no número de casos de cancro diagnosticados em 2020 em comparação com o ano de 2017.

A descoberta foi particularmente significativa em casos de tumores do sistema nervoso central, onde houve uma redução de 38% de novos casos diagnosticados; a diminuição também foi acentuada em casos de linfomas, onde a redução foi de 28%.

“A pandemia da COVID-19 levou a uma redução substancial no diagnóstico de cancro em crianças, adolescentes e jovens adultos durante a primeira vaga”.

A investigadora principal, Julia Hippisley-Cox, acredita que “uma possível explicação para este fenómeno é o tempo que as crianças esperaram a mais para serem atendidas por um médico”.

“Esta investigação mostra-nos que, para além de problemas no diagnóstico, a COVID-19 teve um impacto muito grande no diagnóstico precoce. Agora, que estamos finalmente a recuperar desta pandemia, é vital que nos foquemos em recuperar o tempo perdido e em darmos o melhor que podemos a este grupo de pacientes”.

Fonte: The Guardian

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