Uma revisão do Centro de Cancro da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, publicada na revista Lancet Oncology, descreve que a esperança de uma diminuição de eventuais efeitos secundários a longo prazo provocada pelas novas terapias-alvo pode não ser conclusiva em pacientes pediátricos.
“Como pediatras que tratam de crianças com cancro, esperamos sempre os efeitos colaterais das quimioterapias tradicionais: entre baixa contagem de glóbulos brancos e infeções, ou mesmo a longo prazo, problemas cardíacos ou infertilidade. Mas, atualmente, a esperança é de que novos agentes moleculares sejam muito menos tóxicos. Isso pode ser verdade, especialmente em pacientes adultos, mas até que tenhamos mais informações sobre os efeitos a longo prazo destas terapias em crianças é preciso ter cuidado sobre como e quando prescrevê-las”, considera o investigador Chris Porter.
É do conhecimento científico que as terapias moleculares podem impedir o crescimento de pacientes pediátricos, atrasar a puberdade ou acelerar o aparecimento da diabetes, mas os pesquisadores estão apenas agora a estudar os efeitos adicionais, às vezes imprevistos, que podem incluir questões mais subtis a longo prazo, tais como problemas de equilíbrio, neurocognitivos e motores.
Atualmente, é possível inibir determinadas vias de crescimento num adulto para evitar o crescimento de tumores, algo que, a partir de determinada faixa etária não gera problemas adicionais, “mas se desligarmos esses mesmos caminhos num momento crítico do desenvolvimento infantil podemos ter problemas reais”, referem os cientistas.
O problema prático, segundo os autores, é que a aprovação dos reguladores de medicamentos sobre muitos destes compostos para uso em adultos permite que os médicos prescrevam os mesmos fármacos para uso pediátrico. Muitos são comprimidos, administrados por via oral ou tratamentos ambulatórios, que dificultam o reconhecimento e controlo de possíveis efeitos colaterais, mesmo a curto prazo, muito menos para previsões a 10, 15 ou 60 anos mais tarde.
“A mensagem que pretendemos transmitir é que a forma de tratar o cancro pediátrico mudou completamente em alguns tipos de tumores e, em alguns casos, traduziu-se mesmo num enorme progresso. Há muitas terapias eficazes, mas a questão é saber usá-las com segurança. Com o aumento da sobrevivência, precisamos de curar crianças que terão 60 ou 70 anos. A questão é como vamos tratar melhor essas crianças, sabendo que o cancro continua a ser o inimigo, mas tendo noção de que não se pretende induzir complicações que afetam negativamente o resto das suas vidas”, sublinha o artigo.
Por enquanto, e até que haja resposta para estas questões, os pesquisadores recomendam o uso de terapias molecularmente direcionadas em pacientes pediátricos apenas no contexto de um ensaio clínico, a fim de garantir a supervisão necessária para a prescrição racional desses medicamentos em pacientes pediátricos.
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