Danika Keyser é uma menina de 12 anos faladora, articulada, bem-educada e, no mínimo, brilhante.
Aluna na Escola Secundária de River City, Danika rouba todas as atenções quando começa a contar a sua pequena, mas intensa, história de vida, repleta de conversas sobre enfermeiros, danças, gelados e de um macaco de peluche que, muitas vezes, se senta no seu lugar quando a menina não pode ir à escola.
Pode até parecer parvo, mas esta “é uma maneira da minha turma se sentir conetada comigo quando eu não estou lá”, explicou Danika.
A falta de tempo para a escola tornou-se parte da rotina de Danika, que frequentemente realiza exames de sangue e se dirige a consultas com especialistas que a ajudam a manter a sua leucemia mieloide crónica e os seus sintomas sob controle.
Danika foi diagnosticada com este tipo pouco comum de leucemia em fevereiro de 2015, quando tinha apenas 8 anos.
“Tudo o que eu sabia era que não me sentia normal. Sentia-me mal. Tinha a sensação de que algo não estava bem, o meu corpo doía-me… quando chegou o diagnóstico, tudo fez sentido na minha cabeça”, disse a menina faladora.
Sem historial de cancro na família, os pais de Danika, Jerod e Amber, também ficaram confusos quando os médicos disseram que ela tinha leucemia, e não gripe ou mononucleose como eles pensavam, ou esperavam…
“Eu só pensava que os médicos estavam errados, que não sabiam do que estavam a falar. Tentei convencê-los de que era apenas uma gripe que se iria curar com uns medicamentos, mas não. Ainda para mais disseram-me logo que aquele tipo de leucemia era rara em crianças”, contou Amber.
“É uma forma tão rara de leucemia em crianças que nem sequer existia um protocolo de tratamento para crianças. A minha filha de 12 anos faz o mesmo tipo de quimioterapia que uma pessoa de 60 anos. E o pior é que será uma doença para toda a vida”, explicou Jared.
A leucemia infantil mais comum, a leucemia linfoblástica aguda, afeta o sangue, a medula óssea e os glóbulos brancos e pode, eventualmente, entrar em remissão. Mas a leucemia de Danika é uma condição para a vida.
“O melhor que temos a fazer é sujeitá-la a quimioterapia todos os dias, para resto da sua vida”, disse Jerod. “O nosso sonho é que, através dos avanços da pesquisa, isto deixe de ser o procedimento padrão, que se consiga chegar a um tipo de tratamento mais eficaz”.
Danika passou duas semanas no único hospital da região que faz tratamentos contra o cancro pediátrico, quando foi diagnosticada.
Curiosamente, uma das enfermeiras que seguiu Danika também tinha sido diagnosticada com o mesmo tipo de leucemia que a menina; hoje, com 31 anos, ainda continua a tomar medicação diariamente.
Danika não é limitada pela sua condição, mas o seu crescimento será comprometido pela doença; para além disso, a menina terá que estar sempre atenta a feridas e lacerações, já que a coagulação será um problema para o resto de sua vida.
“A pior coisa para mim foi conseguir aceitar o fato de que este é um ajuste vitalício para nós. Não é apenas durante 1 ou 2 anos, é para a vida. Saber que nunca poderei dizer que a minha filha está curada é muito difícil de aceitar”, conta, com tristeza, Amber.
Os primeiros tempos de Danika no hospital foram assustadores, especialmente tendo em conta que o seu diagnóstico foi revelado apenas 4 dias depois da menina se queixar com dores.
“Foi uma experiência paranormal. Eu senti-me a sair do meu corpo. Não era eu que estava a ouvir aquilo”, relembra o pai.
Os profissionais de saúde foram fundamentais nos primeiros tempos de adaptação. Jerod teve a sorte de ter um amigo cardiologista que trabalhava no mesmo hospital onde a sua filha fez os tratamentos. Desde o início, este amigo deu-lhe força.
“Uma das primeiras coisas que ele me disse foi que o ‘cancro infantil é completamente diferente das formas adultas de cancro e houve uma grande progressão nos últimos 10 anos. Eu não te posso garantir que tudo vai correr bem, mas posso dizer-te que vou estar aqui, e que esta batalha não vai, nem pode ser tão complicada como aquilo que estás a pensar’”.
Se para Jerod, a sua mulher e seu amigo foram o seu pilar, para Danika esse pilar chegou pelas palavras e atitudes das enfermeiras, que a tentavam animar a todo o custo.
“A ala de oncologia pediátrica é, ao mesmo tempo, o lugar mais feliz e mais triste à face da terra”, confessa Jerod.
Também o médico de Danika fez algo pela família, entrando em contato com a Make-A-Wish Foundation, para que a organização pudesse realizar o sonho da menina: ir, com a sua família, num cruzeiro pelas Caraíbas.
A organização realizou esse sonho, e a família pôde ir no seu cruzeiro de sonho, numa viagem da qual só guardam boas recordações.
“Todas as pessoas sabiam quem nós éramos. Tivemos acesso a tudo, parecíamos celebridades”, contou o pai da menina, que se emociona quando se recorda daquela semana em que ninguém se lembrou da dura realidade que estavam a enfrentar.
Infelizmente, a família Keyser é uma das muitas que tem de lidar com o diagnóstico de um cancro infantil. No Sacred Heart Children’s Hospital, onde Danika é seguida, é geralmente a doutora Felgenhauer quem dá as péssimas notícias aos familiares.
“É difícil, não vou negar, sentir que somos o primeiro obstáculo na vida daquelas pessoas. Sinto sempre que entro na vida das famílias para lhes virar o mundo ao contrário. Mas, por outro lado, também somos nós quem lhes tira todas as dúvidas, quem lhes explica os tratamentos e quem, muitas vezes, lhes diz que tudo vai correr bem”, disse a médica.
Para além da doença, os problemas financeiros também são uma preocupação para os Keyser.
“O fardo financeiro traz muito stress, e quando existe muito stress, o seio familiar acaba por se ressentir. Nós, graças a Deus, temos possibilidades, mas é muito complicado ver outras famílias que vivem de apoios”, disse Amber.
“Nenhuma criança deve ter a sua infância roubada por causa de uma doença como esta”, finaliza Jerod.