Quais os fatores associados aos maus resultados no tratamento da leucemia?

A taxa de sobrevivência de pacientes pediátricos com leucemia linfoblástica aguda tem melhorado significativamente nas últimas décadas. No entanto, ainda são necessárias novas estratégias para identificar os casos que respondem mal ao tratamento.

Um novo estudo, publicado na revista EBioMedicine, relatou que a constelação de pequenas moléculas produzidas pelo metabolismo na medula óssea dos pacientes, também conhecida como metaboloma, no momento do diagnóstico, permitiu identificar pacientes com maior probabilidade de responder mal ao tratamento.

Os cientistas do Baylor College of Medicine e do Texas Children’s Cancer Center, ambos nos Estados Unidos, descobriram uma associação entre o metabolismo central do carbono e a doença residual mínima após o tratamento.

Testes em laboratório mostraram que o tratamento de leucemia linfoblástica aguda com medicamentos que interferem no metabolismo central do carbono reduziu efetivamente o crescimento do cancro, o que abre a possibilidade de que uma abordagem semelhante possa ser utilizada em humanos no futuro.

“Neste estudo, queríamos identificar biomarcadores ou fatores que previssem, no momento do diagnóstico, quais as crianças não responderiam de maneira ideal à quimioterapia padrão. O conhecimento desses biomarcadores permitirá aos médicos identificar esses pacientes e planear o seu tratamento de acordo com os resultados”, disse um dos autores do estudo, Jeremy M. Schraw.

Neste estudo retrospetivo, os cientistas procuraram esses possíveis biomarcadores na medula óssea, de onde se origina a leucemia linfoblástica aguda; os investigadores levantaram a hipótese de que o metaboloma reflete as características biológicas do paciente, como o estado de saúde das células ou a sua capacidade de responder ao tratamento. Avaliar o perfil dos metabólitos produzidos na medula óssea para identificar pacientes de alto risco ainda não havia sido feito antes.

Os investigadores analisaram amostras preservadas de medula óssea que foram retiradas de 155 pacientes no momento do diagnóstico. No final da primeira ronda de quimioterapia, esses pacientes foram avaliados quanto a doença residual mínima, uma medida considerada o preditor mais poderoso de recidiva.

“O nosso perfil de metabólitos mostrou que os metabólitos envolvidos nas vias do metabolismo central do carbono, como os que produzem energia celular e formam os blocos de construção do material genético, eram mais abundantes em pacientes que apresentaram doença residual mínima após o tratamento do que naqueles cuja doença tinha sido eliminada”, explicaram os cientistas que, de seguida, testaram em laboratório o efeito que a interrupção do metabolismo central do carbono teria nas células de leucemia linfoblástica aguda.

“Descobrimos que os medicamentos que interferem no metabolismo central do carbono tiveram um efeito ‘anti-leucemia’ em todas as linhas celulares e em amostras de pacientes pediátricos. Esse efeito foi observado com faixas de doses que antes eram demonstráveis ​​e bem toleradas em pacientes com outras formas de cancro”.

Para os cientistas, estas descobertas são importantes pois destacam o valor potencial do metaboloma como forma de identificar todos os pacientes de alto risco e planear tratamentos mais eficazes. O perfil metabólico também pode revelar possíveis “calcanhares de Aquiles” de outras condições, como vias metabólicas específicas, como o metabolismo central do carbono na leucemia linfoblástica aguda, o que pode sugerir novas estratégias de tratamento em potencial.

Atingimos os limites da quimioterapia intensiva para melhorar a sobrevivência em casos de leucemia linfoblástica aguda – adicionar doses mais altas ou medicamentos adicionais apenas aumenta os efeitos secundários, não melhora a resposta dos pacientes”, disse Karen R. Rabin, oncologista e uma das investigadoras envolvidas no estudo.

“Este estudo é importante na identificação de uma possível abordagem alternativa para atacar células de leucemia em pacientes com doença de alto risco”, continuou.

“Esta pesquisa é uma demonstração do poder das colaborações multidisciplinares. Ao reunir indivíduos com experiência em epidemiologia, oncologia pediátrica e biologia da leucemia, demos um importante passo na identificação de um biomarcador de resposta ao tratamento para crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda, bem como um potencial alvo terapêutico”, referiu outro dos cientistas envolvidos no estudo, Philip J. Lupo.

Fonte: Medical Xpress

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