Psicóloga pediátrica explica como apoiar crianças após diagnóstico de cancro

Os primeiros anos de vida são uma altura de grande crescimento e desenvolvimento, em que são lançadas as bases para as competências sociais, emocionais e de aprendizagem. Um diagnóstico e tratamento de cancro podem perturbar o ambiente seguro e as rotinas que promovem o desenvolvimento infantil.

Emily McTate, psicóloga pediátrica especializada em oncologia, explica que apoiar proativamente o desenvolvimento de um filho durante o cancro e o seu tratamento, pode ajudá-lo a continuar a prosperar e a diminuir a sua angústia.

O efeito do cancro no desenvolvimento da criança

Tratamentos como a radiação, a quimioterapia e outros medicamentos, podem ter efeitos a longo prazo na memória, aprendizagem, concentração e resolução de problemas, de acordo com o National Cancer Institute (EUA). McTate afirma que, para as crianças pequenas, as exigências e expectativas do tratamento do cancro acrescentam uma camada de stress e confusão à aprendizagem de como navegar no mundo.

“É suposto as crianças de dois e três anos estarem a explorar o seu mundo e a aprender a tolerar e a regular as emoções”, refere. Diz ainda que a regressão de alguns marcos é comum em crianças em idade pré-escolar, o que pode ser angustiante.

“O treino do bacio, por exemplo, é um grande feito e desenvolve a confiança das crianças, mas é comum ficarem incontinentes durante o tratamento do cancro porque estão a receber toneladas de fluidos para eliminar a quimioterapia. De repente, voltam a usar fraldas. É muito difícil quando se tem três anos e se está tão orgulhoso de si próprio”.

Por sua vez, as crianças mais velhas podem passar a depender mais dos cuidadores do que é habitual e ter dificuldade em gerir a falta de tempo para os colegas e as atividades de que gosta. À medida que se tornam mais conscientes do seu corpo, podem também começar a sentirem-se inseguras em relação às alterações físicas que o cancro e o tratamento do cancro podem causar.

Preparação para a mudança de necessidades

Antes e durante o tratamento do cancro, recorrer a um psicólogo pediátrico, pode ajudar a família a preparar-se para potenciais perturbações no desenvolvimento das crianças. Parte dos cuidados psicológicos pediátricos envolve orientar os pais, dando informações adequadas. “Queremos que as crianças confiem que os seus médicos e pais estão a ser honestos com elas sobre o que vai acontecer. Isso inclui sermos honestos quanto ao facto de haver algumas coisas que não sabemos.”

Recriar a normalidade durante o tratamento

Manter a consistência cria uma sensação de normalidade e ajuda a criança a lidar com o tratamento. Isto inclui manter expectativas e disciplina regulares. Para crianças em idade escolar ou mais velhas, é importante que mantenham ligações com os seus pares e amigos, pois isso pode facilitar a sua transição de volta à vida quotidiana.

Ajudar a lidar com emoções difíceis

Crianças de todas as idades podem passar por emoções difíceis à medida que enfrentam o cancro, mas os tipos de emoções e as razões por detrás delas variam consoante a idade. Em crianças mais crescidas, dar-lhes espaço para falarem livremente sobre como se sentem, encorajá-las a falarem com um profissional de saúde, familiar ou amigo, e ensiná-las a reduzir o stress e a ansiedade, pode ser importante.

A terapia cognitivo-comportamental, um tipo de terapia focada na conversa, e o biofeedback, uma técnica mente-corpo utilizada para regular o stress e a ansiedade, são frequentemente utilizados pelas equipas de cuidados oncológicos para ajudar as crianças com cancro a lidar com os medos, a ansiedade e outras emoções difíceis. Explicar os procedimentos e preparar as crianças para possíveis dores também ajuda as crianças mais pequenas a lidarem com o medo durante o tratamento.

McTate sublinha que, embora seja importante estar atento, as alterações de comportamento, a regressão de marcos e outras preocupações, podem ser desafios temporários e não obstáculos a longo prazo.

Fonte: Medical Xpress

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