Mais de 150 doentes em Portugal tiveram acesso à terapia com células CAR-T, produzidas em laboratório, para ajudar o sistema imunitário a combater cancros de sangue.
Numa iniciativa do NOVA Center for Global Health, em conjunto com o laboratório de investigação da NOVA Information Management School e com o apoio da Kite, uma empresa Gilead, no âmbito do projeto SHARP, vão reunir-se especialistas das áreas clínica, científica, económica, política e social, com a finalidade de debater sobre a gestão e expansão do acesso à terapia com células CAR-T em Portugal.
Este é um projeto que visa identificar soluções que melhorem o acesso de doentes elegíveis a este tipo de terapia, promovendo uma abordagem eficiente e a sua inclusão no sistema de saúde português.
“As células CAR-T são uma tecnologia que está a trazer alterações estruturais na forma como se abordam algumas doenças oncológicas. No curto/médio prazo, será também alargada a outros problemas oncológicos, a muitas doenças autoimunes e mesmo alguns problemas cardíacos. Dado que é uma tecnologia de vanguarda e com especificidades novas, o país tem de se capacitar a todos os níveis: estruturas, preparação de profissionais, modelos de financiamento e outros procedimentos de gestão de saúde. Ambicionamos com este projeto SHARP, dar o nosso contributo ao país para a criação e proposta de soluções que permitam o acesso atempado e equitativo a todos os doentes elegíveis a esta terapia.”, afirma Henrique Lopes, Diretor do NOVA Center for Global Health.
O projeto está dividido em três sessões, orientadas para os principais desafios, destacando recomendações que permitam ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentar a resposta e ser capaz de incluir esta tecnologia inovadora no tratamento de doenças oncológicas e autoimunes.
A primeira dessas sessões, que decorreu a 15 de novembro, centrou-se no financiamento, e contou com vários especialistas da área da saúde, nomeadamente dois membros do Steering Committee – Fernando Leal da Costa, Diretor do Departamento de Hematologia do IPO Lisboa e membro da Direção do Colégio de Especialidade de Hematologia Clínica da Ordem dos Médicos, e Xavier Barreto, Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
“A tecnologia CAR é incontornável no tratamento de doenças malignas e vamos assistir à expansão do seu uso. Teremos mais indicações terapêuticas aprovadas, em linhas de tratamento mais precoces e para mais doenças, ao mesmo tempo que irão surgir mais alvos antigénicos, CAR produzidas em poucas horas, associação de CAR com outros tratamentos e até CAR alogénicas disponíveis na “prateleira” e prontas a usar. Os sistemas de saúde ainda não estão preparados para tudo isto”, refere Fernando Leal da Costa.
No entanto, para Xavier Barreto, a visão económica deste tipo de tratamento pode ser um obstáculo pois “estes tratamentos têm custos elevados, têm tendência para aumentar (por aumento das indicações e do número de doentes) e não são adequadamente financiados pelo Estado. Ora, sabendo que são tratamentos potencialmente curativos para patologias graves e partindo do pressuposto que o uso é considerado custo-efetivo, não podemos aceitar que o financiamento se possa constituir como um obstáculo ao uso destas terapêuticas. É urgente rever o financiamento das terapias com células CAR-T, garantindo que a retribuição é justa e que promove a equidade do seu uso no SNS português”.
As próximas sessões têm como objetivo abordar questões como a gestão e administração da jornada do doente numa visão multidisciplinar e, também, questões que envolvem a prova científica, o diagnóstico e a referenciação, temas essenciais para definir a integração desta terapia em Portugal.
Todas as informações recolhidas no âmbito do projeto SHARP vão ser reunidas num relatório público, cuja apresentação está prevista para o primeiro semestre de 2025.