Prémio Nobel da Medicina 2019: a resposta das células ao oxigénio

Este ano, o prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina será partilhado por 3 cientistas que descobriram de que forma as células respondem a mudanças nos níveis de oxigénio, um dos processos mais essenciais para a vida.

William Kaelin Jr., do Dana-Farber Cancer Institute e da Universidade de Harvard, no Reino Unido, Sir Peter Ratcliffe, da Universidade de Oxford e do Francis Crick Institute, e Gregg Semenza, da Universidade Johns Hopkins, descobriram a maneira como as células entendem a diminuição dos níveis de oxigénio e respondem a esse fato, criando novas células e vasos sanguíneos.

Além de descrever um processo fisiológico fundamental, que permite que os animais prosperem em algumas das regiões de maior altitude da Terra, o mecanismo deu aos cientistas a possibilidade de conhecerem novas vias para o desenvolvimento de tratamentos para a anemia, o cancro e, entre outras, doenças cardiovasculares.

Sir Peter Ratcliffe soube da notícia quando, durante uma reunião, foi informado de que teria de atender uma chamada de Estocolmo.

“A primeira coisa que fiz foi garantir que não era nenhum amigo a pregar-me uma partida”, disse o cientista ao jornal The Guardian.

Mas não era…

Os três premiados ganharão um prémio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de 871 mil euros). Já em 2016, estes 3 cientistas tinham ganho o prémio Lasker.

Num trabalho que durou mais de duas décadas, os investigadores separaram diferentes aspetos de como as células do corpo percebem pela primeira vez, e depois respondem, aos baixos níveis de oxigénio.

Este gás crucial é usado por estruturas minúsculas, chamadas mitocôndrias, que se encontram em quase todas as células animais para converter alimentos em energia útil.

Os cientistas mostraram que, quando o oxigénio é escasso, um complexo intitulado fator induzível por hipoxia acumula-se em quase todas as células do corpo. O aumento da hipoxia em vários efeitos, sendo um deles um aumento da atividade de um gene usado para produzir eritropoietina (EPO), uma hormona que, por sua vez, aumenta a criação de glóbulos vermelhos que transportam oxigénio.

Segundo a literatura, o papel da hipoxia é crucial desde os primeiros dias de vida. Se um embrião não tiver esse gene, não sobreviverá à embriogénese; mesmo no útero, o corpo precisa desse gene.

O trabalho levou ao desenvolvimento de vários medicamentos, como o roxadustat, que tratam a anemia, “enganando” o corpo e fazendo-o pensar que está a grandes altitudes, aumentando assim a produção de mais glóbulos vermelhos; o roxadustat está no já disponível no mercado chinês, enquanto aguarda a avaliação dos reguladores de saúde europeus.

Fármacos semelhantes têm como objetivo ajudar pacientes com doenças cardiovasculares e cancro do pulmão que lutam para obter oxigénio suficiente na corrente sanguínea. Fármacos mais experimentais, baseados na descoberta, procuram impedir o crescimento de outros cancros, bloqueando a sua capacidade de produzir novos vasos sanguíneos.

Randall Johnson, professor de fisiologia molecular e patologia da Universidade de Cambridge, afirma que os vencedores deste prémio Nobel “expandiram muito o nosso conhecimento de como a resposta fisiológica torna a vida possível”.

Sir Peter Ratcliffe fez questão de elogiar a equipa com a qual trabalhou ao longo de todos os anos necessários para decifrar de que forma as células se adaptavam às mudanças nos níveis de oxigénio.

“Hoje estamos aqui mas, no início, nenhum de nós sabia exatamente o que estava a fazer”.

Fonte: The Guardian

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