Pode o formaldeído presente nas vacinas causar leucemia infantil? A falsa informação que circula nas redes sociais

Recentemente, têm sido partilhadas várias publicações em diversas plataformas, como o Facebook e o Instagram, que afirmam que o formaldeído presente nas vacinas está relacionado com o diagnóstico de leucemia em crianças.

Agora, especialistas vêm afirmar que esta notícia é falsa, uma vez que “não existe qualquer conexão entre o uso de formaldeído nas vacinas e a leucemia infantil”.

Na publicação que se assume ser a original, publicada por um utilizador australiano a 1 de dezembro de 2020, é possível ler-se o seguinte:

“Fui embalsamador durante 18 anos. O cancro mais comummente diagnosticado em pessoas que têm como profissão serem embalsamadores é a leucemia devido à exposição ao formaldeído. Hoje em dia, as crianças recebem dezenas de vacinas a mais do que aquelas que nós recebíamos quando éramos crianças, sendo que um dos principais compostos destas vacinas é o formaldeído. O tipo de cancro mais diagnosticado em crianças é a leucemia.”

Apesar de carecer de confirmação científica, esta afirmação tem vindo a ser partilhada por milhares de internautas nas redes sociais; tudo isto, numa altura em que várias instituições e empresas de biotecnologia lutam contra o tempo para desenvolver uma vacina segura e eficaz contra o novo coronavírus.

Contudo, esta afirmação é falsa.

O formaldeído é um composto orgânico usado numa grande variedade de produtos domésticos e que pode ser encontrado, em pequenas quantidades, em vacinas, onde atua como conservante.

Em resposta às publicações enganadoras que se estão a disseminar pelas redes sociais, o Australian Cancer Council afirmou à AFP que “não existem quaisquer evidências de uma relação entre a leucemia infantil e o formaldeído presente em vacinas”.

De acordo com outro especialista, Seong Lin Khaw do Instituto de Pesquisa Walter and Elizabeth Hall, na Austrália, “os níveis de formaldeído presente em algumas vacinas é muito menor do que os níveis naturais de formaldeído produzido fisiologicamente, como parte do metabolismo normal, ou presente em alimentos, como frutas”.

O investigador explica que, “da mesma forma que a exposição à luz solar é segura até um certo nível e, ao mesmo tempo, também está associada a um aumento do risco de cancro da pele, o risco de cancro associado ao formaldeído também está relacionado com o nível de exposição”.

“O nível de exposição por meio de vacinas está muito abaixo do limite seguro, pelo que não qualquer ligação entre um diagnóstico de cancro infantil e a exposição a este composto as vacinas”.

Já a Universidade de Oxford, no Reino Unido, através do seu Vaccine Knowledge Project, veio afirmar que a quantidade natural de formaldeído presente no sangue de uma criança de dois meses (cerca de 1,1 miligramas no total) é “10 vezes maior do que a quantidade encontrada em qualquer vacina” (menos de 0,1 miligramas).

Apesar de, segundo a American Cancer Society,  ser verdadeiro que estudos descobriram que “embalsamadores e profissionais médicos que usam formaldeído têm um risco aumentado de desenvolver leucemia”, Natasha Crowcroft, investigadora na Universidade de Toronto explica que “as dosagens encontradas nas vacinas e no processo de embalsamamento não podem ser comparáveis”.

“Para embalsamar um corpo, são precisas quantidades de formaldeído que variam entre os 6 e os 10 litros. Essas quantidades nada têm a ver com as pequenas quantidades utilizadas nas vacinas”, disse a investigadora.

Kathryn Huntley, diretora da Leukemia Foundation relembra ainda que os fatores de risco para crianças que desenvolvem leucemia ainda são amplamente desconhecidos.

“Por enquanto, só sabemos que existem dois tipos principais de leucemia pediátrica: a leucemia linfoblástica aguda e a leucemia mieloide aguda. E também já sabemos que algumas crianças podem estar em maior risco de desenvolver leucemia, como é o caso de crianças com uma doença congénita, de crianças com distúrbios sanguíneos pré-existentes, ou crianças cujos irmãos foram diagnosticados com leucemia”, afirma a cientista.

Fonte: AFP

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