Investigadores conseguiram identificar fatores que explicam o porquê de a perda auditiva estar relacionada com dificuldades de leitura em sobreviventes de tumores cerebrais pediátricos.
As descobertas lançam as bases para o desenvolvimento de intervenções que ajudem os sobreviventes a tornarem-se melhores leitores.
Durante o estudo, publicado no Journal of Clinical Oncology, investigadores do St. Jude Children’s Research Hospital, nos Estados Unidos, analisaram de que forma 260 crianças e adolescentes sobreviventes de tumores cerebrais, incluindo 64 com perda auditiva severa, realizaram habilidades que são os blocos de construção da leitura.
A lista incluiu velocidade de processamento de informações, memória de trabalho, identificação de palavras e habilidades fonológicas, que incluem a capacidade de usar unidades de som (fonemas) para descodificar palavras.
Em comparação com outros sobreviventes, aqueles com perda auditiva severa experimentaram declínios significativos durante o tratamento em todas as oito medidas incluídas nesta análise.
Depois de contabilizar os fatores de risco de idade no momento do diagnóstico e intensidade do tratamento, a análise sugeriu que os sobreviventes com perda auditiva severa sofriam mais com a velocidade de processamento e habilidades fonológicas lentas.
“A leitura é uma habilidade que leva muito tempo a aprender e da qual dependemos para toda a vida”, disse Heather Conklin, membro do Departamento de Psicologia do St. Jude.
“Houve indícios na literatura científica de que os níveis de leitura estavam a diminuir em sobreviventes de tumores cerebrais pediátricos e que a perda auditiva podia ser um contribuinte. Mas este foi o primeiro estudo a identificar os principais componentes cognitivos que levam a problemas de leitura”, explicou a investigadora.
As descobertas sugerem que as intervenções devem-se concentrar na melhoria das habilidades cognitivas e linguísticas, como velocidade de processamento e fonémica, antes de abordar tarefas mais complexas como a compreensão de leitura.
“As crianças mais jovens, com menos de 7 anos de idade, estão particularmente vulneráveis ao declínio de habilidades que são fundamentais para a leitura”, disse Traci Olivier, médica no Our Lady of the Lake Medical Center, nos Estados Unidos.
Os tumores cerebrais e da medula espinhal são o segundo tipo de cancro infantil mais comum, correspondendo a cerca de 1 em cada 4 cancros pediátricos diagnosticados anualmente.
Um estudo recente do St. Jude descobriu que 32% dos pacientes com tumores cerebrais desenvolveram perda auditiva severa durante os vários anos de tratamento, apesar do tratamento com um fármaco, a amifostina, que foi projetado para proteger as células ciliadas da orelha interna que são essenciais para a audição.
A análise envolveu crianças e jovens entre os 3 e os 21 anos com meduloblastoma e outros tumores cerebrais embrionários.
Todos os pacientes foram incluídos num ensaio clínico, que incluiu cirurgia e quimioterapia e radioterapia adaptada ao risco. Todos fizeram testes neurocognitivos e auditivos pelo menos duas vezes – no início e depois no tratamento.
A análise propôs múltiplos fatores, incluindo danos ao nervo auditivo causados pelo próprio tumor, que complicam o domínio da leitura para os sobreviventes de tumores cerebrais pediátricos com perda auditiva severa.
“Isto sugere que temos uma oportunidade de melhorar significativamente a qualidade de vida dos sobreviventes, desenvolvendo intervenções mais eficazes”, disseram os investigadores.
“Em comparação com a perda de visão, as dificuldades auditivas passam, muitas vezes, despercebidas por períodos mais longos. Este estudo demonstra a necessidade de acompanhamento audiológico próximo no início do tratamento para que possamos reconhecer e intervir cedo”, lê-se no artigo.
Fonte: Science Daily