Uma nova pesquisa sugere que a perda auditiva severa em sobreviventes de cancro infantil pode estar associada a déficits neuro-cognitivos, independentemente do tipo de terapia a que os pacientes foram sujeitos.
Investigadores do St. Jude Children’s Research Hospital analisaram de que forma a perda auditiva pode afetar as habilidades neuro-cognitivas de sobreviventes de cancro infantil.
Os resultados mostram que os jovens sobreviventes que sofreram uma perda auditiva severa têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolverem déficits neuro-cognitivos, independentemente do tipo de terapia que receberam.
A investigação foi publicada na revista JAMA Oncology.
“Existem vários estudos sobre o efeito da perda auditiva em crianças que nascem surdas; esta investigação é das primeiras a avaliar os efeitos da perda auditiva em crianças que, em determinado período da sua infância, perdem a audição”, informou o investigador Johnnie Bass.
“O nosso objetivo foi o de analisar a prevalência, a gravidade e os efeitos que a perda auditiva provoca em sobreviventes de cancro pediátrico. Desta forma, e graças a uma amostra considerável de pacientes, conseguimos avaliar o impacto da deficiência auditiva na função neuro-cognitiva”.
No total, o estudo analisou 1 520 sobreviventes de cancro infantil; destes, mais de um terço sofria de perda auditiva severa.
Os sobreviventes com perda auditiva severa apresentaram risco aumentado de déficits neuro-cognitivos.
Independentemente do tipo de terapia a que foram expostos, quando comparados a sobreviventes com audição normal ou com perda auditiva leve, os sobreviventes com perda auditiva severa apresentaram um risco aumentado de déficits neuro-cognitivos.
“Este foi o primeiro estudo a analisar objetivamente a função auditiva e a função neuro-cognitiva numa grande população de sobreviventes de cancro infantil a longo prazo, que foram estratificados consoante o tratamento a que foram sujeitos”.
“Mesmo os pacientes que não foram expostos a terapias neurotóxicas e que desenvolveram déficits auditivos leves podem vir a sofrer de problemas neuro-cognitivas”, disse um dos autores do estudo, Kevin Krull, responsável pelo St. Jude Epidemiology and Cancer Control.
Para o investigador, esse fator é o que torna “importante identificar os pacientes. Se eles forem identificados precocemente, seremos capazes de sugerir intervenções que os ajudem a melhorar a sua audição e, consequentemente, as suas funções neuro-cognitivas”.
Frequentemente, os aparelhos auditivos são recomendados para ajudar na perda auditiva relacionada a tratamentos. Os cientistas descobriram que, no estudo, dos 330 sobreviventes com perda auditiva severa a quem havia sido recomendado o uso de um aparelho auditivo, apenas 23% recorriam ao dispositivo de forma consistente.
Segundo pesquisas realizadas em pessoas que nasceram com perda auditiva e em idosos que sofrem com a mesma condição, os aparelhos auditivos podem melhorar os resultados neuro-cognitivos; ainda assim, serão necessárias mais pesquisas para “determinar se o mesmo acontece com os sobreviventes de cancro infantil”.
Esta investigação utilizou dados fornecidos pelo St. Jude Lifetime Cohort, uma plataforma que acompanha sobreviventes de cancro infantil ao longo da sua vida adulta; os participantes são sujeitos a exames de saúde regulares de saúde.
O objetivo é que as descobertas realizadas através desta plataforma ajudem a desenvolver um maior conhecimento sobre as necessidades de saúde de sobreviventes de cancro infantil; ao mesmo tempo, os dados recolhidos poderão ser fundamentais para uma maior compreensão sobre os tratamentos e os seus efeitos secundários.
Fonte: Eurekalert