Pandemia impôs quebra nos cuidados de saúde oncológicos a nível nacional

O estudo “Disrupção em Oncologia por Força da COVID-19”, desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), com o apoio da MSD Portugal, avaliou o impacto da pandemia de COVID-19 no rastreio, diagnóstico e tratamento das doenças oncológicas de forma transversal a nível nacional.

O relatório foi realizado com base na experiência de profissionais de saúde envolvidos em atividades de rastreio de cancro, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos prestados a todos os doentes com cancro, assim como na opinião de doentes oncológicos e seus familiares.

O documentou pretendeu compreender a forma como a pandemia tem influenciado a prestação de cuidados a doentes oncológicos, após verificar-se uma diminuição do número de novos diagnósticos e a alteração dos casos tratados, com um predomínio de doentes em estadios mais avançados.

O trabalho de investigação inclui a revisão literária, análises quantitativas descritivas, de informação da rotina assistencial do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e de um estudo qualitativo com administradores hospitalares, profissionais de saúde e representantes de doentes.

A redução do número de rastreios oncológicos realizados está identificada pelos entrevistados, bem como a diminuição dos cuidados de saúde direcionados aos doentes com cancro, destacando-se a falta de acesso aos cuidados de saúde primários e o consequente impacto no diagnóstico e referenciação por parte dos médicos de família.

Verificou-se, igualmente, uma diminuição na realização de primeiras consultas e de cirurgias, situação que conduziu a um atraso nos novos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Ainda sobre o plano terapêutico dos doentes, tanto as revisões, como os participantes no estudo qualitativo, relataram mudanças nos tratamentos em comparação ao período pré COVID-19, incluindo alteração de tratamentos intravenosos para tratamentos orais, bem como o adiamento/atrasos nos tratamentos, incluindo cirurgias, tratamentos sistémicos e radioterapia, em algumas unidades de saúde.

Quando questionados sobre as possíveis causas, os participantes indicam fatores relacionados com os próprios doentes (ex. receio de infeção por SARS-CoV-2), com os recursos disponíveis (ex. realocação de recursos de saúde para combater a pandemia) e com as medidas de confinamento (ex. dificuldades de acesso aos estabelecimentos de saúde).

Outro ponto que mereceu destaque neste estudo foi a capacidade de adaptação dos serviços de saúde, que se traduziu em alterações de infraestruturas, readaptação de equipamentos e criação constante de novos protocolos de atuação. Está evidenciado que os profissionais de saúde recorreram à teleconsulta, a videoconsulta e o e-mail, para garantir um apoio médico permanente e de proximidade com os doentes oncológicos e seus familiares, evitando, assim, deslocações desnecessárias aos serviços de saúde.

Contudo, embora os inquiridos defendam que as tecnologias de comunicação devem ser mantidas nos casos em que a deslocação não seja estritamente necessária, o estudo salienta as desigualdades socioeconómicas no acesso à telemedicina – nem todos os doentes tinham equipamentos, literacia e competências para beneficiarem adequadamente deste recurso.

Por último, o trabalho de investigação liderado pelo ISPUP demonstra que a pandemia trouxe consequências psicológicas para os doentes com cancro, tendo sido reportado pelos diferentes grupos de entrevistados o aumento da procura por apoio psicológico e serviço social. No caso dos profissionais de saúde, o grupo experienciou um grande desgaste físico e emocional que se deveu, sobretudo, à falta de profissionais em todos os setores do SNS, agravada pelo elevado absentismo por COVID-19 ou isolamento profilático, assim como a sobreposição de tarefas.

Os resultados deste estudo demonstram que é urgente desencadear um conjunto de ações consertadas pelos diferentes stakeholders, de forma a minimizar o impacto da pandemia por COVID-19 na vida dos doentes oncológicos, dos profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do SNS.

No capítulo das recomendações sugeridas pelos participantes para recuperar potenciais atrasos no rastreio, diagnóstico e tratamento do cancro, salientam a contratação de mais recursos para o SNS, com o objetivo de aumentar a sua capacidade de resposta, ao nível da prestação de cuidados médicos a doentes com COVID-19, do apoio aos centros de vacinação e dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica; a reorganização e reforço dos cuidados de saúde primários, para retomar as atividades nos centros de saúde, melhorar a rede de referenciação e diagnóstico. Recomenda-se, igualmente, a elaboração de um plano de recuperação estruturado que envolva diferentes stakeholders.

Os participantes do estudo identificam a vontade de manter a redução do número de deslocações dos doentes oncológicos aos serviços de saúde, nomeadamente através da criação de condições para que possam realizar o maior número de tratamentos e consultas possíveis no mesmo dia e da domiciliação de alguns cuidados de saúde. É igualmente defendido o planeamento de alterações estruturais e funcionais para melhorar o atendimento do doente oncológico e respetiva monitorização.

Fonte: BCW Global (press release)

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