Pacientes com espectro de Beckwith-Wiedemann em risco aumentado de cancro infantil

Uma nova investigação realizada pelo Hospital Infantil da Filadélfia (CHOP), nos Estados Unidos, mostrou de que forma o risco de tumor varia entre pacientes com a síndrome genética do espectro de Beckwith-Wiedemann quando comparados com pacientes que exibem sintomas mais “clássicos” da doença.

Os investigadores, cujo trabalho foi publicado na revista Genes, também descobriram que os exames de sangue tradicionais podem não capturar adequadamente todos os casos com risco de tumor.

A síndrome de Beckwith-Wiedemann (BWS) foi identificada pela primeira vez na década de 1960 como uma síndrome genética tipicamente caracterizada por crescimento aumentado. No entanto, nos últimos anos, os médicos mudaram o nome para espectro de Beckwith-Wiedemann para se refletir com mais precisão a ampla variedade de sintomas que podem aparecer.

O espectro de Beckwith-Wiedemann também é o transtorno epigenético de cancro infantil mais comum.

Esta condição é uma doença genética comummente caracterizada por um crescimento excessivo que ocorre em aproximadamente 1 em 10 mil nascimentos. Embora a maioria das crianças não tenha todas as características desta síndrome, as características mais comuns incluem língua dilatada, baixos níveis de açúcar na corrente sanguínea, defeitos na parede abdominal, crescimento excessivo num lado ou numa parte do corpo e aumento do risco de desenvolver certos tipos de cancro durante a infância, muitos dos quais podem ser curados com tratamento adequado.

No entanto, muitas crianças apresentam casos mais leves da síndrome e podem nunca receber um diagnóstico apropriado.

Embora o distúrbio clássico e o espectro definido mais recentemente sejam causados ​​por alterações epigenéticas no cromossoma 11p15, há uma heterogeneidade molecular e fenotípica complexa, o que significa que um maior aprofundamento sobre o tema é necessário para garantir que todos os casos são devidamente diagnosticados e monitorizados.

Em pacientes com espectro de Beckwith-Wiedemann clássico, foi já relatado que estes têm um risco de 8 a 10% de desenvolver um tumor.

Usando dados gerados a partir de um registo criado especificamente para esta investigação, os cientistas investigaram o risco de tumor e a sua correlação com características clínicas.

“As crianças neste espectro não se parecem com os casos que estamos acostumados a ver há décadas nos livros”, disse Jennifer Kalish, uma geneticista pediátrica com interesse especial na síndrome de Beckwith-Wiedemann e na predisposição ao cancro.

“Quisemos ver se conseguíamos prever com mais precisão quais os pacientes que poderiam desenvolver tumores com base nas suas características clínicas.”

O estudo mostrou que o risco de tumor em todo o espectro de Beckwith-Wiedemann difere do espectro de Beckwith-Wiedemann clássico, com certos fenótipos ou apresentações clínicas associadas a causas epigenéticas específicas.

Por exemplo, rins aumentados e hiperinsulinismo foram associados ao cancro em alguns pacientes; noutros pacientes, fatores perinatais e pré-natais que atualmente não estão incluídos como parte da classificação do espectro de Beckwith-Wiedemann podem levar ao risco de tumor – esses fatores incluem o tipo de conceção (como fertilização in vitro), ter mais de um bebé ao mesmo tempo, parto prematuro e maior idade gestacional na altura do nascimento. Em geral, o risco de tumores na população do espectro de Beckwith-Wiedemann foi maior do que a taxa publicada anteriormente de entre 8% a 10%.

Uma descoberta importante foi que os resultados dos exames de sangue não produzem necessariamente a mesma precisão diagnóstica que outros resultados de tecido. Testar outros tecidos, como pele, fígado ou qualquer tecido pode produzir resultados mais precisos e levar a um diagnóstico adequado e a uma melhor representação do risco de tumor.

Além disso, os dados sugerem que crianças com características clínicas mais sutis podem ter maior probabilidade de desenvolver tumores do que aquelas com sintomas clássicos, embora todos os pacientes apresentassem algum risco aumentado de desenvolvimento de tumor.

“Embora sejam necessárias mais investigações sobre esta doença incrivelmente complexa e heterogénea, já aumentámos substancialmente o número de ferramentas necessárias para um diagnóstico mais precoce e preciso, o que nos permite encontrar mais facilmente pacientes que poderiam ter passado despercebidos.”

Fonte: Eurekalert

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