Os sobreviventes de cancro e a discriminação laboral

Investigadores norte-americanos avaliaram alegações de discriminação no emprego feitas por adultos norte-americanos, mais jovens ou mais velhos, sobreviventes de cancro e encontraram diferenças substanciais na natureza – e nos resultados – das suas alegações.

Publicada no Journal of Cancer Survivorship, a investigação concentrou-se em reclamações feitas à U.S. Equal Employment Opportunity Commission (em português, Comissão para a Igualdade de Oportunidades de Trabalho), entre 2009 e 2016; os dados incluíram 1 001 reclamações de sobreviventes de cancro com idades até aos 35 anos e 8 874 reclamações de sobreviventes com mais de 35 anos.

No seu formato original, a Americans with Disabilities Act reconheceu que pessoas com cancro e em tratamento podiam experimentar declínios no seu funcionamento físico e cognitivo; contudo, na altura, pensava-se que essas dificuldades desapareciam no final do tratamento ou quando os pacientes entravam em remissão. Em 2009, esta lei foi alterada, de forma a consagrar que, mesmo após o término do tratamento, pessoas com historial de cancro experimentavam, muitas vezes, dificuldades persistentes.

“A fadiga é o problema mais comum que os sobreviventes de cancro enfrentam”, diz David Strauser, professor na Universidade de Illinois e principal autor da investigação.

Segundo David, hoje é dia, sabe-se que “a quimioterapia pode afetar a capacidade de concentração e de processamento de informação”.

Estudos anteriores descobriram que “sobreviventes de cancro, jovens ou adultos, sofrem de discriminação a uma taxa semelhante a outros grupos com deficiência”. Embora vários estudos tenham-se concentrado nos sobreviventes adultos mais velhos no local de trabalho, as experiências de discriminação laboral em sobreviventes jovens “têm sido negligenciadas”.

Uma análise recente de dezenas de estudos descobriu que adultos mais jovens sobreviventes de cancro infantil tinham quase o dobro da probabilidade de ficar desempregados do que os seus pares saudáveis.

Mais, em sobreviventes de tumores do sistema nervoso central a probabilidade de desemprego era 5 vezes maior.

Durante a investigação, David Strauser e os seus colegas descobriram que a principais queixas de sobreviventes, tanto mais jovens quanto mais velhos, envolviam o que consideravam termos e condições de trabalho injustos, assédio, disciplina, falha em acomodar as suas deficiências e rescisão indevida do seu emprego.

Os sobreviventes de cancro mais jovens eram mais propensos do que os seus pares mais velhos a reivindicar tratamento discriminatório em relação a oportunidades de formação e promoção; para além disso, o número de queixas relativas à reintegração laboral também era maior.

“Conseguimos observar que os sobreviventes de cancro mais jovens têm necessidades diferentes em relação ao emprego do que os sobreviventes mais velhos, sendo que as alegações de discriminação tendem a estar relacionadas com questões em torno do progresso na carreira.”

Para os investigadores, esta descoberta sugere que os empregadores podem não estar familiarizados com as leis que protegem os direitos das pessoas com deficiência decorrentes de doenças crónicas.

“Acredito que os empregadores deveriam receber formação sobre como lidar com pessoas com doenças crónicas. O que observámos foi que as pessoas estão menos sensibilizadas para estas questões, e isso não pode acontecer”, finaliza David Strauser.

Fonte: Mirage News

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