Os efeitos da COVID-19 em crianças com cancro: os resultados de uma colaboração global

Os resultados de uma investigação feita a nível internacional mostraram que 20% das crianças com cancro infetadas com o vírus SARS-CoV-2, vulgo COVID-19, desenvolveram infeções graves.

Segundo os dados, apenas 1% a 6% de crianças sem diagnóstico de cancro relataram ter desenvolvido infeções graves decorrentes da COVID-19.

Publicadas na revista The Lancet Oncology, as descobertas foram obtidas através de dados extraídos do Global Registry of COVID-19 in Childhood Cancer, uma plataforma lançada pelo St. Jude Children’s Research Hospital e pela International Society of Pediatric Oncology (SIOP), que reuniu dados sobre o efeito da pandemia nesta população única de pacientes.

Os investigadores observaram que, para além de infeções mais graves ou críticas, os pacientes pediátricos com cancro foram mais propensos a serem hospitalizados e morrer do que outras crianças.

A pandemia também interrompeu o tratamento oncológico, sendo que é importante notar que estes efeitos foram observados de forma mais significativa em países pobres e em desenvolvimento, onde a probabilidade de doença grave ou crítica por COVID-19 era quase 6 vezes maior do quem países desenvolvidos.

“Os resultados mostram de forma clara e definitiva que crianças com cancro são mais afetadas pela COVID-19 do que crianças sem diagnóstico de doença oncológica”, afirmou uma das autoras da investigação, Sheena Mukkada, do Departamento de Medicina Pediátrica Global e Doenças Infeciosas do St. Jude.

“Esta colaboração global ajudou os médicos a tomarem decisões baseadas em evidências sobre prevenção e tratamento, que, infelizmente, permanecem relevantes à medida que a pandemia continua.”

Esta foi a primeira investigação multinacional a descrever os resultados de uma grande amostra de crianças e adolescentes com cancro, ou que foram submetidas a um transplante de células estaminais, e que foram afetadas pela COVID-19.

Este registo analisou 1 500 crianças, de 131 hospitais em 45 países, entre 15 de abril de 2020 a 1 de fevereiro de 2021 – ou seja, antes das vacinas se tornarem disponíveis para crianças mais velhas em algumas áreas do globo, bem como antes do aparecimento de algumas variantes da doença, incluindo a variante delta, que são responsáveis ​​pela nova vaga de infeções e que se tornaram numa grande preocupação global.

O estudo constatou que 65% dos pacientes foram hospitalizados e 17% necessitaram de admissão ou transferência para um nível superior de atendimento; mais, 4% dos pacientes morreram devido a infeções por COVID-19, em comparação com entre 0,01% a 0,7% de mortalidade relatada entre pacientes pediátricos gerais.

O tratamento oncológico também foi afetado durante a pandemia – a terapia foi modificada em 56% dos pacientes analisados, e 45% viram o seu tratamento quimioterápico suspenso enquanto a infeção por COVID-19 era tratada.

“Ao trabalharmos juntos neste registo global, permitimos que hospitais em todo o mundo partilhassem informações e aprendessem rapidamente a forma como a COVID-19 afetava crianças com cancro”, afirmou a presidente da SIOP, Kathy Pritchard-Jones.

“Apesar de tudo”, diz”, “os resultados são tranquilizadores. Esta investigação mostra que muitas crianças podem continuar o seu tratamento oncológico em segurança; contudo, também foram destacadas características clínicas importantes que podem prever um curso clínico mais grave e a necessidade de uma maior vigilância para alguns pacientes”.

Os resultados sugerem a existência de fatores biológicos que, muito provavelmente, influenciam a forma como crianças com cancro respondem à COVID-19: isso inclui a função do sistema imunitário e a doença subjacente.

A análise também mostrou que os resultados variam em todo o mundo, embora o registo não tenha sido capaz de identificar as causas – essa variação pode ser devido a uma série de fatores, incluindo acesso a cuidados e recursos ou atrasos no diagnóstico de infeção.

Segundo os cientistas, os resultados são um apelo à ação para abordar as desigualdades no acesso a medidas de tratamento protetoras e eficazes contra a pandemia COVID-19 em todo o mundo.

“Compreender uma crise global como a COVID-19 exige que toda a comunidade dedicada à oncologia pediátrica se una para dar uma resposta eficaz”, disse Carlos Rodriguez-Galindo, diretor da St. Jude Global.

“O impacto desta doença foi sentido em todos os cantos do mundo, mas particularmente em países pobres e em desenvolvimento. Existem diferenças críticas com base no local onde a criança vive. Este registo é uma ferramenta que está a ajudar-nos a entender o que isso significa para crianças com cancro oriundas de todas as partes do mundo”.

O registo (http://covid19childhoodcancer.org/) ainda está a aceitar a inscrição de pacientes de vários países – esta plataforma inclui ferramentas de visualização de dados disponíveis gratuitamente para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa aceder a estas informações.

Os investigadores defendem ainda que a vacinação contra a COVID-19 se tem mostrado segura e eficaz na prevenção de formas graves da doença, ajudando os pacientes a evitar hospitalizações e a necessidade de ventilação mecânica.

Fonte: Science Daily

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