A primeira classificação de cancros pediátricos, que será publicada em breve pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como parte da nova série de Classificação de Tumores da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi resumida num artigo de revisão publicado na revista Cancer Discovery.
“Os tumores pediátricos diferem radicalmente dos tumores adultos em termos de tipos de tumor, etiologia, biologia e abordagens terapêuticas. Tendo isto em conta, uma classificação com foco na idade pediátrica é um passo instrumental para permitir que os médicos identifiquem a melhor opção de tratamento com base no diagnóstico mais preciso”, explicou um dos autores deste trabalho, Stefan Pfister, do Hopp Children’s Cancer Center Heidelberg, na Alemanha.
A classificação do tumor ajuda a estratificar cada entidade da doença num sistema hierárquico com base em critérios predefinidos. Desde 1956 que a OMS promove a publicação da Classificação de Tumores, mais comummente conhecida como “os livros azuis da OMS”. Cada livro fornece uma classificação de ponta de tumores para cada órgão.
Anteriormente, os tumores pediátricos eram incorporados juntamente com os tumores adultos em classificações de tumores específicos de órgãos.
A Classificação de Tumores Pediátricos da OMS, que será publicada como parte da quinta edição da série Classificação de Tumores, apresenta um compêndio único e atualizado de todas as entidades tumorais que podem ocorrer na infância ou adolescência, dividido por sítios de órgãos.
Os autores incorporaram morfologia tradicional, imuno-histoquímica e características moleculares para fornecer critérios essenciais para a definição dos tipos de tumor.
“Uma perspetiva holística deve considerar um tumor infantil não apenas como uma doença no local do órgão, mas como uma doença no local do órgão no contexto de um organismo em desenvolvimento”, disse Rita Alaggio, chefe da Unidade de Patologia do Hospital Infantil Bambino Gesù de Roma, em Itália.
Este compêndio também reflete a transição geral das abordagens diagnósticas tradicionais baseadas em descobertas histológicas / microscópicas e imuno-histoquímica para as novas tecnologias de diagnóstico molecular com base na genómica do tumor, que trouxeram uma grande revolução nos critérios de classificação do tumor.
Os tumores mesenquimais (tecidos moles) ainda são classificados principalmente por critérios morfológicos, com a análise genética a complementar a abordagem tradicional, enquanto os tumores do sistema nervoso central e as leucemias são classificados principalmente com base em alterações moleculares ou epigenéticas recorrentes.
Isso pode, em breve, ser complementado por tecnologias emergentes adicionais, como análises de biópsia de célula única ou líquida, observaram os autores.
Em algumas partes do mundo, o acesso à patologia e metodologia modernas ainda é uma etapa que limita o ritmo. No entanto, de acordo com os autores, mudar para critérios diagnósticos imparciais e reproduzíveis (moleculares), que formam a base para a classificação atual, pode eventualmente ajudar os países em desenvolvimento e pobres, que normalmente sofrem de uma escassez significativa de patologistas subespecializados e treino em patologia para aumentar a precisão do diagnóstico.
Este processo também exigirá o desenvolvimento de testes acessíveis e redes de apoio para esses países, complementados por abordagens de inteligência artificial para prever classes moleculares de amostras histológicas no futuro.
Embora as alterações genéticas esporádicas (não hereditárias) desempenhem um papel fundamental no desenvolvimento da maioria dos tumores pediátricos, aproximadamente 10% dos casos estão associados a síndromes de predisposição ao cancro hereditário.
A Classificação de Tumores Pediátricos da OMS contém uma classificação das síndromes de predisposição ao cancro e identifica os desafios associados ao diagnóstico e tratamento.
De acordo com os autores, a primeira edição da Classificação de Tumores Pediátricos da OMS foi um projeto ambicioso que envolveu um grande número de colaboradores de todo o mundo.
Esse esforço conjunto teve como objetivo recolher conhecimentos de ponta sobre todos os tumores pediátricos de diferentes perspetivas, pelo que envolveu várias disciplinas, dando enfâse a necessidades e desafios específicos das faixas etárias pediátricas e adolescentes.
“Gastar entre 2% a 3% do custo de uma terapia moderna contra o cancro para estabelecer um diagnóstico preciso, imparcial e inequívoco que harmonize a tipagem molecular do tumor, os biomarcadores prognósticos e preditivos e a potencial predisposição ao cancro é um investimento extremamente bom para melhorar os resultados do paciente e poupar efeitos secundários do tratamento”, explicou Stefan Pfister.
Uma limitação deste trabalho é que a classificação do tumor e a caracterização molecular são alvos móveis, portanto, qualquer classificação pode fornecer apenas um instantâneo atualizado que reflete o conhecimento atual.
“Por isso, a OMS implementou mecanismos para atualizar aspetos específicos das classificações entre as várias futuras edições. além disso, a OMS terá todas as classificações de tumores em formato online, onde também poderão ser atualizadas em tempo real”.
Fonte: Medical Xpress