Durante várias décadas, uma forma bastante agressiva de cancro infantil tem conseguido escapar às melhores, e mais diversas, ferramentas da medicina; mas, agora, uma equipa de médicos acredita ter conseguido fazer grandes progressos, que podem vir a dar origem a um novo tratamento.
Como? Através da inserção de milhões de cópias de um vírus diretamente no cérebro das crianças para infetar os seus tumores e estimular um ataque ao sistema imunitário.
Apesar de poder parecer confuso, este inovador tratamento fez com que uma dúzia de crianças diagnosticadas com glioma conseguissem sobreviver durante mais do dobro do tempo do que crianças que não foram submetidas a mesmo.
Entre 8% a 10% dos tumores cerebrais diagnosticados em crianças são gliomas; de uma forma geral, este tipo de tumores são tratados com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia. Mas, na grande maioria dos casos, os pacientes sofrem uma recidiva: quando isto acontece, a média de sobrevivência é de pouco menos de 6 meses.
Nesta investigação, publicada no New England Journal of Medicine, os cientistas conseguiram mostrar que, embora a maioria dos participantes tenha, infelizmente, acabado por falecer, algumas crianças estão vivas e bem de saúde – algo praticamente inédito em crianças com diagnóstico de glioma.
“Esta foi apenas a primeira etapa de um longo caminho”, disse Gregory Friedman, especialista em oncologia pediátrica, que atualmente trabalha na Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.
Todos os pacientes que participaram nesta investigação receberam este tratamento experimental após terem sido submetidos a outros tratamentos, que falharam.
“Agora queremos melhorar, queremos continuar a progredir e, quem sabe, podermos começar a utilizar esta abordagem logo na altura do diagnóstico, e não só após todas as outras alternativas terem falhado”.
Na maioria dos casos de glioma, o sistema imunitário perde a capacidade de reconhecer e atacar o cancro, pelo que os cientistas têm tentado encontrar várias formas de tornar o tumor num novo alvo.
“Foi desta forma que chegámos ao vírus do herpes, que causa a herpes labial e estimula uma forte resposta do sistema imunitário”.
Os cientistas contaram com a ajuda da empresa Treovir, que desenvolveu um tratamento inovador através da modificação genética do vírus, de forma a que este apenas infetasse as células cancerígenas.
Recorrendo a minúsculos tubos inseridos nos tumores, os médicos forneceram o vírus alterado a 12 pacientes, com idades entre os 7 e os 18 anos, cujo prognóstico havia piorado significativamente, mesmo após os pacientes terem sido submetidos aos tratamentos habituais.
Metade dos pacientes também recebeu uma dose de radiação, que ajudou a espalhar o vírus.
Dos 12 pacientes analisados, 11 mostraram evidências de que o tratamento estava a funcionar; a sobrevivência média foi de pouco mais de 1 ano, que é mais do que o dobro do habitual.
4 crianças continuam vivas após 18 meses de terem sido submetidas ao tratamento, algo praticamente inédito.
Os testes também mostraram altos níveis de células especializadas do sistema imunitário nos tumores, o que sugere que o tratamento recrutou a ajuda necessária do corpo para atacar a doença.
Embora tenham sido observados alguns efeitos secundários, incluindo náuseas, vómitos e fadiga, não foram encontrados quaisquer problemas graves de segurança.
Fonte: ABC News