O tratamento do cancro infantil nos países em desenvolvimento

Nos países desenvolvidos, cerca de 80% das crianças diagnosticadas com cancro sobrevivem; por outro lado, muitos países pobres e em desenvolvimento têm taxas de mortalidade superiores a 80%, de acordo com um estudo, realizado em 2019 e publicado na revista Infectious Agents and Cancer.

Mas agora, finalmente, um pequeno grupo de médicos, espalhados um pouco por todo o continente africano, começa a ver resultados promissores, nomeadamente ao nível das taxas de mortalidade, que começam a diminuir.

“Verificámos que alguns destes cancros são altamente curáveis ​​e que as crianças recuperam rapidamente dos tratamentos”, disse o Fredrick Chite Asirwa, um médico que implementou, no Quénia, um programa de apoio ao cancro infantil, em parceria com a Takeda Pharmaceuticals, a Universidade do Indiana, nos Estados Unidos, e a Universidade Moi, no Quénia.

Graças a este programa, que já aumentou as taxas de sobrevivência, mais de 700 médicos, enfermeiros e assistentes receberam um treino supervisionado dedicado à área da oncologia pediátrica.

“No Quénia acreditava-se que o cancro era uma sentença de morte. Não havia muitos sobreviventes”, conta Fredrick, cujo trabalho na zona oeste do país permitiu um acesso melhorado a tratamentos contra o cancro infantil.

Embora os desafios enfrentados por médicos, pacientes e as suas famílias sejam diferentes, existem alguns em comum, como a falta de médicos e enfermeiros treinados em oncologia, diagnósticos incorretos, impedimentos financeiros e falta de acesso a medicamentos autênticos e de alta qualidade.

Mas estes novos médicos implementaram novos protocolos que permitiram que mais crianças fossem diagnosticadas e tratadas com precisão.

Notavelmente, há apenas 50 anos, os Estados Unidos tinham uma taxa de mortalidade por cancro infantil de 90%.

“Isso dá-nos esperança de que conseguiremos realizar o mesmo feito em África”.

Na Tanzânia, a médica Trish Scanlan, em parceria com o governo local, supervisionou o tratamento de milhares de casos, sem qualquer custo para as famílias envolvidas, no Hospital Nacional Muhimbili; hoje em dia, cerca de metade das crianças diagnosticadas com cancro naquela instituição sobrevive.

“Conseguimos aumentar as taxas de sobrevivência sem termos sequer uma sala de armazenamento a frio, necessária para albergar certos medicamentos”, referiu a médica.

Recentemente, a organização Direct Relief deu início à construção de uma sala de armazenamento a frio no Hospital Nacional Muhimbili.

“Estamos a conseguir arranjar soluções para os problemas que enfrentamos. Felizmente, temos tido muita ajuda”.

Já no Malawi, um dos países mais pobres do mundo, o nigeriano Nmazuo Ozuah está a liderar a implementação da Global HOPE, um programa do Hospital Infantil do Texas, nos Estados Unidos, que está a utilizar uma doação de 50 milhões de dólares (cerca de 46 milhões de euros), feita pela Fundação Bristol-Myers Squibb, para desenvolver o tratamento oncológico infantil em África; o programa espera tratar 4 mil novos pacientes de cancro infantil, durante os próximos 5 anos.

Apesar de estar no país há apenas alguns meses, Nmazuo Ozuah, que regressou de uma bolsa escolar nos Estados Unidos, já começou a ver algumas das mudanças positivas, tanto no tratamento do cancro pediátrico quanto em outros tipos de tratamento médico.

“Percebe-se que a nossa presença fortaleceu todo o sistema. Para tratar crianças com cancro, é necessário ter-se um sistema de saúde robusto”, disse o médico durante a Conferência AORTIC, observando que um trabalho sólido em laboratório, treino adequado e consciencialização são fundamentais.

Para ajudar a Global HOPE, a Teva tornou-se a primeira empresa farmacêutica a doar medicamentos para o programa; em 2020, os produtos serão entregues pela Direct Relief ao Malawi e depois, em 2021, ao Botswana e ao Uganda.

“Quando a Direct Relief encontrou uma maneira segura de fazer as entregas desses medicamentos, decidimos envolver-nos e ajudar a Global HOPE”, disse Amalia Adler-Waxman, da farmacêutica Teva.

Seja no Quénia, na Tanzânia ou no Malawi, uma mudança radical exigirá solucionar problemas que estão presentes há décadas naqueles países.

Fredrick Chite Asirwa acredita que uma das questões mais prejudiciais é a ignorância generalizada em relação ao cancro infantil.

“Há artigos que relatam que as taxas de sobrevivência em África são baixas porque os pacientes se dirigem tardiamente aos médicos; mas, em muitos casos, a maioria dos pacientes consulta entre 8 a 10 profissionais de saúde antes de ter um diagnóstico correto. Isso acontece porque a maioria dos médicos africanos não tem qualquer tipo de treino em oncologia. Eles não sabem o que estão a diagnosticar. Muitos deles vão fazer esses treinos noutros continentes, e acabam por ficar por lá”.

Mas, mesmo quando é feito um diagnóstico correto, os altos custos associados acabam por atrasar o tratamento. A escassez e os custos de medicamentos também desempenham um papel importante.

Os três médicos concordam que é necessária uma abordagem multidisciplinar para melhorar os resultados do tratamento do cancro pediátrico naqueles países.

Há outra questão em que estes profissionais também estão em concordância: não há nada mais poderoso do que ver uma criança sobreviver ao cancro.

Fonte: Relief Web

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