Há cerca de um ano, a minha filha Quinn, de 9 anos de idade, terminou o seu tratamento contra o cancro.
Hoje, foi o primeiro dia dela de regresso à escola. Ela está tranquila, mas eu e o meu marido estamos ansiosos. Ansiosos por voltarmos a uma certa normalidade, a algo que já conhecemos. Por voltarmos à nossa zona de conforto.
Neste primeiro dia de escola, fomos levá-la os dois. Caminhámos pelo pátio, com o sol a bater-nos na cara. De mãos dadas, como dois namorados. Os outros pais olham para nós e sorriem. Sorriem e dizem-nos que tudo vai ficar bem, que o facto de a Quinn ter perdido dois anos por causa dos tratamentos em nada vai influenciar o seu progresso.
Do pátio seguimos para o salão, onde se vai dar a cerimónia de abertura. O barulho das cadeiras dá lugar ao barulho da entrada das crianças no salão.
As crianças.
As crianças aptas. As crianças saudáveis. As crianças inocentes. As crianças sem cancro.
O meu coração começa a acelerar – sinto as batidas. A minha respiração torna-se ofegante. Sinto-me nervosa. Cai-me uma lágrima, mas eu não quero que ninguém note. O meu coração continua a pulsar a um ritmo avalassador.
Elas continuam a entrar no salão.
As crianças.
As crianças aptas. As crianças saudáveis. As crianças inocentes. As crianças sem cancro.
Sinto-me atormentada pela sua presença, por aquele momento. E nisto, uma pergunta brota da minha mente com uma fúria ardente: “Porquê a minha filha?”
Mal consigo respirar. As lágrimas escorrem-me pelo rosto e o meu peito aperta. Suspiro, e digo ao meu marido que tenho de sair. Tenho que sair dali.
Confuso, segue-me. Segura-me, abraça-me e diz que me vai levar a casa, mas eu digo que não. A Quinn ia ficar tão triste se nenhum dos seus pais ali estivesse.
Sigo o meu caminho até casa. Um pé de cada vez: direito, esquerdo, direito, esquerdo. Respiro profundamente. Concentro-me em mim e apenas em mim. Ao chegar a casa, deito-me na cama. Estou exausta. Sinto-me deprimida. Sinto-me envergonhada por não ter conseguido controlar a minha mente.
Malditos sejam, ataques de pânico. Malditos sejam por me continuarem a atormentar.
Eu sei, o cancro da minha filha não desapareceu só porque ela saiu do hospital.
O cancro da minha filha não desapareceu só porque o seu cabelo está a crescer novamente.
O cancro da minha filha não desapareceu só porque os tubos de alimentação já foram removidos.
O cancro infantil não desaparece só porque os nossos filhos já parecem estar bem. E os efeitos desta doença perduram em nós, pais, que nos habituámos a só saber lidar com a dor, com a incerteza, com o sofrimento.
Fonte: Cure Search