Investigadores ingleses acreditam estar perto de testar um medicamento que pode vir a ser útil no combate a um cancro cerebral infantil considerado intratável: o glioma pontino intrínseco difuso, também conhecido como DIPG.
Este tipo de cancro, extremamente agressivo, afeta, anualmente, entre 30 a 40 crianças, com idades entre os 5 e os 10 anos; estas crianças acabam por desenvolver tumores causados pela doença e, alguns meses após o diagnóstico, acabam por falecer.
Mas agora, os cientistas acreditam que em breve poderão ter formas de enfrentar a doença – e uma das principais organizações envolvidas neste avanço é a Abbie’s Army, uma organização de caridade criada por Amanda e Ray Mifsud, cuja filha, Abbie, morreu de DIPG em 2011.

Amanda, Ray e Abbie. – Fonte: DR
Esta organização conseguiu angariar verbas que forneceram um apoio vital para a pesquisa do professor Chris Jones, do Institute of Cancer Research, em Londres.
O trabalho deste cientista revelou o papel de um gene mutado que está envolvido na condução da progressão de tumores DIPG; graças às descobertas, os cientistas estão agora a desenvolver uma série de medicamentos que podem ser testados em breve, de forma a perceber se são capazes de inibir o progresso da doença.
“Atingimos uma etapa muito promissora com este trabalho pré-clínico e acreditamos que, no máximo, dentro de alguns anos, poderemos dar início a ensaios clínicos que testem o efeito das nossas descobertas no glioma pontino intrínseco difuso”, disse Chris Jones à revista Observer.
“Quando isso acontecer, teremos produzido o primeiro novo tratamento desenvolvido especificamente para um cancro infantil. E quando isso acontecer é preciso lembrar o contributo fundamental que a Abbie’s Army e outras instituições que apoiam crianças com cancro deram.”
Os primeiros sintomas de DIPG incluem problemas de visão, audição e equilíbrio, que vão piorando à medida que o tumor subjacente cresce e se espalha, até que o paciente fica acamado. A localização do tumor no tronco cerebral torna a cirurgia impossível. Além disso, a relativa raridade de casos de DIPG faz com que esta doença não seja um foco de interesse das principais empresas farmacêuticas.

Chris Jones trabalha arduamente no desenvolvimento de terapias eficazes contra DIPG. – Fonte: DR
O único tratamento padrão atualmente em uso é a radioterapia paliativa, a mesma que Abbie recebeu.
“Ao longo de 2 meses, a minha filha lutou muito. Foi uma resistente”, recordou a mãe da menina, que acabou por falecer em setembro de 2011, quando tinha apenas 6 anos de idade.
“A Abbie era o nosso mundo”, conta, emocionada, Amanda.
“Nenhum pai quer ouvir quer ouvir que não existe nada que possa salvar o seu filho. O pior neste mundo é não existir esperança e, por enquanto, não existe esperança alguma para crianças com esta doença”.
Após a morte de Abbie, Amanda e o seu marido criaram a Abbie’s Army; desde aí, a instituição já ajudou inúmeras famílias e conseguiu angariar fundos para a pesquisa sobre a doença; fundos esses que desempenharam um papel muito importante para a investigação de Chris Jones.
Há 2 anos atrás, este cientista descobriu que os tumores causados pela doença carregavam mutações do gene ACVR1, que nunca haviam sido encontradas em nenhum outro tipo de cancro. A mutação significa que o gene é suscetível de ser ligado e direcionar a fabricação de proteínas quando é suposto ser desligado.
Esse conhecimento sugere que o ACVR1 está envolvido numa cascata de eventos bioquímicos que eventualmente produzem tumores DIPG e forneceu a Chris Jones um alvo específico para combater a doença.
Com a ajuda do grupo farmacêutico M4K Pharma, Chris Jones e a sua equipa desenvolveram uma nova classe de medicamentos que podem atuar como tratamentos para a doença.
“Identificámos 5 medicamentos que podem ser portadores de boas notícias, e isso é algo extraordinário”, disse Owen Roberts, chefe executivo da M4K Pharma.
Ainda assim, a rapidez com que esses ensaios levarão ao lançamento do primeiro medicamento eficaz e prolongador da vida para o tratamento de crianças atingidas por DIPG permanece uma incógnita.
“Este é um processo que não pode ser feito de animo leve. Existem protocolos meticulosos que não podem ser apressados”, esclareceu Chris Jones.
“Por outro lado, é uma verdadeira luta contra o tempo, uma vez que esta doença é terrivelmente rápida no seu curso clínico. O tempo médio de sobrevivência é de 9 meses. Isso significa que, quando obtivermos um medicamento eficaz, veremos rapidamente as melhorias na vida destas crianças”.
Fonte: The Guardian