Jornalistas do US News & World Report viajaram para quatro partes do mundo para examinar as dificuldades que existem no tratamento de crianças com cancro e conhecerem projetos e estratégias bem-sucedidas que oferecem esperança.
Embora o cancro pediátrico seja raro, o tratamento aumenta a taxa de sobrevivência a 5 anos de 0% para mais de 80%.
Hoje em dia, a maioria dos sobreviventes de cancro infantil têm anos de vida produtiva pela frente, mesmo com os efeitos secundários decorrentes do tratamento.
No entanto, o cancro infantil não é uma prioridade de saúde em muitos países, especialmente naqueles com recursos escassos; os correspondentes do US News & World Report viajaram para países onde os profissionais de saúde estão a desafiar essas normas, ao mesmo tempo que salvam a vida a milhares de jovens.
- Gaby Galvin e a Jessica Pons viajaram para a vila de Yakima, nos Estados Unidos, onde conversaram com trabalhadores rurais, cujos filhos tinham sido diagnosticados com cancro, bem como com profissionais de saúde locais; as jornalistas também viajaram para Seattle, uma cidade conhecida como um centro líder para o tratamento de cancro.
- O jornalista Ting Shi visitou a cidade de Xangai, na China, um país que está a tentar reverter os efeitos de anos de negligência a crianças com cancro, com base em novas evidências de que o tratamento do cancro infantil salva vidas. O jornalista também visitou um hospital infantil, recentemente aberto, que presta um atendimento centralizado e personalizado a crianças com cancro.
- Já Prue Clarke esteve no Ruanda para mostrar quais os desafios existentes nas melhorias dos tratamentos do cancro nos países em desenvolvimento que têm poucos recursos, bem como as possibilidades inspiradoras para melhorar drasticamente o tratamento.
- Por fim, a partir do Líbano e da Jordânia, a escritora Abby Sewell relatou os esforços para tratar jovens refugiados que fugiram da guerra para enfrentarem o desafio de combater o cancro.
Durante anos, talvez décadas, especialistas médicos, investigadores e formuladores de políticas governamentais em todo o mundo analisaram o cancro infantil através das lentes de um conjunto firmemente estabelecido de crenças. A principal delas é a convicção de que o número de crianças que lutam contra o cancro, por mais trágico que seja, é menor do que outras doenças que atingem os jovens. Muitos especialistas em saúde também acreditavam que o ónus que o cancro impõe às crianças era uma fração mínima do que os adultos tinham de enfrentar.
Mas essas crenças estavam erradas.
O número de crianças que sofrem de cancro – inclusive em países ricos como os Estados Unidos – é muito maior do que se pensava anteriormente.
Uma pesquisa publicada no passado mês de julho, na revista Lancet Oncology, estima que ocorram mais de 400 mil novos casos de crianças com cancro, todos os anos, um número que é aproximadamente o dobro da quantidade de casos diagnosticados.
Esta pesquisa também quantificou, pela primeira vez, a escala global do ónus que o cancro impõe às crianças, às suas famílias e até aos governos. Os cientistas conseguiram quantificar esses fatores calculando o número de anos que as crianças perdem por problemas de saúde, incapacidade ou morte prematura.
Essa medida, chamada anos de vida ajustados pela incapacidade (DALYs), ajuda os especialistas em saúde pública a avaliar a saúde das populações dos países e, por sua vez, a desenvolver estratégias para o tratamento de pacientes.
As investigadoras estimam que o cancro infantil resultou na perda de 11,5 milhões de anos de vida saudável, em todo o mundo, em 2017, ocupando assim o segundo lugar entre todos os cancros. Mas, e segundo as cientistas, esse número é provavelmente uma subestimação devido a uma variedade de fatores, como a falta de dados e o uso de técnicas de diagnóstico que funcionam bem para adultos, mas não para crianças.
A pesquisa também mostrou que a carga do cancro afeta desproporcionalmente pessoas em países em desenvolvimento, onde os recursos para tratar a doença são escassos.
As autoridades de saúde da China consideraram as evidências tão convincentes que lançaram um programa nacional, a partir do zero, para tratar o cancro infantil.
“A China é uma história de sucesso incrível. Estamos a falar de milhares de crianças que hoje estão a receber tratamentos que, há muito pouco tempo, não eram sequer uma opção”, disseram as investigadoras.
Esses esforços são a expressão mais recente de um movimento internacional para melhorar o tratamento do cancro infantil em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, onde os recursos e conhecimentos locais são inadequados para o desafio.
Indivíduos, organizações, instituições e governos estão cada vez mais a trabalhar em conjunto para estabelecer redes globais que melhorem o diagnóstico e o atendimento.
A reportagem do US News & World Report mostrou a existência de desafios semelhantes e únicos à medida que as comunidades de saúde nos países enfrentam a melhoria do tratamento do cancro.
Seja nos Estados Unidos, na China, em África ou no Médio Oriente, muitas famílias carecem de conhecimento básico sobre o cancro infantil: o que é, como se reconhece e qual a sua real ameaça.
Mas, apenas chegar ao tratamento coloca imensos desafios. No Líbano, por exemplo, as famílias de refugiados devem passar por uma série de postos de controle para viajar desde os campos aos quais foram designados para as clínicas e hospitais nas cidades do país. Na China, as famílias que vivem nas províncias rurais sabem que o melhor tratamento para o cancro está disponível em poucas cidades, como Pequim ou Xangai, e o custo de para lá chegar é enorme.
No vale de Yakima, os pais enfrentam escolhas dolorosas se seus filhos estão doentes. Para alguns, a decisão de procurar ajuda médica pode acarretar o risco de deportação, dado o atual clima político nos Estados Unidos em relação a trabalhadores ilegais. Quando os seus filhos são diagnosticados, os pais têm de decidir se vão desistir do trabalho, que lhes fornece o dinheiro necessário para pagar os tratamentos, de forma a que possam levar as crianças até à cidade de Seattle.
Pagar pelo tratamento do cancro é um grande obstáculo em todos os países.
“Em África, onde poucas pessoas têm acesso a cuidados de saúde acessíveis, as crianças com cancro enfrentam desafios aterradores, onde a sobrevivência depende da sorte: ou encontram um médico e alguém capaz de pagar pelo tratamento, ou as crianças morrem”, explicou Prue Clark.
No entanto, estão a ser feitos alguns progressos.
No Ruanda, funcionários do governo estão a trabalhar com profissionais de saúde locais e a visitar especialistas internacionais para desenvolver um sistema de saúde que está a ser visto como um modelo regional que pode oferecer um possível plano para países pobres e em desenvolvimento. No Líbano e na Jordânia, médicos locais, organizações internacionais e sociedade civil estão a trabalhar em conjunto para alcançar e tratar jovens refugiados, uma abordagem que pode funcionar para outras pessoas que vivem perto de zonas de conflito.
Na China, os anos de trabalho despendidos para melhorar um banco de dados de crianças com cancro estão a valer a pena, com o número de jovens pacientes diagnosticados e tratados a aumentar.
E no vale Yakima, em Washington, organizações e clínicas locais de assistência médica estão a trabalhar com centros de tratamento em Seattle, e em outros lugares, para que seja prestada a devida assistência.
O tema comum para o tratamento bem-sucedido do cancro infantil é a colaboração ao nível local, regional e internacional. A colaboração com parceiros nacionais e internacionais é fundamental para melhorar os registos de base populacional, particularmente em países pobres.
E, como escreveu Carlos Rodriguez-Galindo, essa colaboração está a decorrer a uma escala internacional com uma nova urgência.
“Com os nossos parceiros globais, agora é possível levar cuidados e curas de qualidade para crianças com cancro em todo o mundo. Mas sabemos que isso não acontecerá da noite para o dia; é um processo longo que exigirá o melhor de nós”, disse o diretor da St.Jude Global, uma iniciativa global que quer melhorar o acesso a tratamentos de qualidade para crianças com cancro.
Fonte: Yahoo