O cancro infantil em tempos de pandemia

Em março de 2020, a COVID-19 parou o mundo.

O confinamento obrigatório e o distanciamento social passaram a fazer parte do dia a dia da população mundial. Passou a existir um novo mundo, cheio de novas regras para todos.

Durante todo este período, a Brighter Tomorrows nunca parou de funcionar e, mesmo com dificuldades, continuou a ajudar famílias afetadas pelo cancro infantil, oferecendo apoio durante os tempos de pandemia.

“Na Brighter Tomorrows somos todos pais que tiveram de se cruzar com cancro infantil. Tentamos apoiar-nos uns aos outros”, explicou Christa Keehr, membro do conselho da Brighter Tomorrows.

“A minha filha mais nova, a Hannah, é uma sobrevivente de cancro infantil. Tinha 2 anos quando foi diagnosticada com um neuroblastoma”, conta.

Kari Lucas conhece bem esta dor. A sua filha Harper também foi diagnosticada com cancro, “uma semana após ter completado 2 anos, uma leucemia linfoblástica aguda”.

Para Kari, durante os tratamentos “as crianças acabam por estar em confinamento só que, até aqui, era um confinamento controlado, com acesso a todos os cuidados médicos”.

“Ficámos muito assustados”, confessa. “Tínhamos medo que a COVID-19 viesse prejudicar a oncologia pediátrica. Não sabíamos como é que este vírus afetava as crianças, muito menos crianças com cancro”.

Os receios ecoaram por todos os pais da Brighter Tomorrows.

“Somos uma verdadeira comunidade”, diz Christa. Juntos, os pais e mães da Brighter Tomorrows partilhavam dicas e duvidas para que pudessem lidar, da melhor forma possível, com a COVID-19.

Kari e o seu marido estão a tomar todas as precauções para proteger Harper, que ainda se encontra em tratamentos. “Não podemos cometer erros.”

Felizmente, Hannah está em remissão. Mas isso não descansa o coração de Christa, uma vez que a menina “ainda corre um alto risco de infeções”.

“Quando a Hannah foi sujeita a um transplante de medula óssea, ela teve de estar isolada durante 100 dias. O aparecimento desta pandemia não teve grande impacto nela, ela já é uma especialista em passar tempo em casa”, diz, rindo-se, Christa.

“Desta vez assistimos a imensos filmes”, conta a mãe de Hannah. “Aproveitámos o facto de termos de estar todos em casas e jogámos jogos de tabuleiros, cartas… Foi, apesar de toda a situação, muito divertido”.   

Ainda assim, sem um fim real à vista para esta pandemia, as preocupações dos pais mantêm-se.

Por esse motivo, e com o intuito de ajudar estas famílias, a Brighter Tomorrows entrou em contato com o especialista em doenças infeciosas pediátricas, o médico Nipunie Rajapakse, da Mayo Clinic, nos Estados Unidos.

“Achámos que precisámos de saber o máximo possível sobre esta doença, também para sabermos distinguir entre aquilo com que nos devíamos preocupar e aquilo que não era importante. Por isso, falámos com o doutor Nipunie Rajapakse”, explica Christa, “para que ele nos pudesse ajudar a esclarecer as nossas dúvidas e ânsias”.

Apesar de todos os seus conhecimentos, Nipunie Rajapakse afirma que o seu trabalho “não é nada fácil”, uma vez que “ainda não se sabe tudo sobre a COVID-19”.

“De acordo com os dados e conhecimentos que temos até agora, podemos afirmar que as crianças com doença oncológica que estavam a ser sujeitas a quimioterapia e que foram infetadas com o novo coronavírus não sofreram complicações”, diz o médico.

“Na verdade, tiveram bons resultados”, acrescenta, afirmando que “muitas delas puderam receber tratamento em casa e não precisaram de ser hospitalizadas”.

“Mas atenção”, alerta, “estas informações são baseadas nos dados que temos ao nosso dispor até agora, não sabemos o que pode acontecer a seguir”.

Embora não tenha respostas para tudo, Nipunie Rajapakse reitera que o uso de máscara e a lavagem frequente das mãos são essenciais na prevenção.

Por enquanto, e com todos os cuidados possíveis, os pais da Brighter Tomorrows já só pensam no amanhã.

“Temos feito encontros virtuais, para que os nossos filhos continuem a interagir. É maravilhoso sentirmos todo este apoio. Tenho a certeza que o amanhã será melhor”, diz Christa.

Fonte: ABC

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