Um diagnóstico de cancro é algo perturbador em qualquer idade, mas especialmente para as crianças e para as suas famílias.
A boa notícia para esses jovens pacientes de cancro é que muitos tipos de cancro que já foram considerados fatais têm agora taxas de cura superiores a 80% graças à pesquisa e ao desenvolvimento de novas terapias.
Todos os anos, no Baystate Children’s Hospital, nos Estados Unidos, diagnosticamos cerca de 30 novos casos de cancro infantil. Embora o cancro pediátrico seja considerada uma doença raro, por ano morrem mais crianças de cancro do que de doenças cardíacas, pneumonia, doenças respiratórias, septicemia e diabetes mellitus combinadas.
Embora rara, a taxa de incidência de cancro infantil também aumentou ligeiramente de 13 crianças por 100 mil em 1975 para mais de 17 crianças por 100 mil desde 2007.
Felizmente, as taxas de sobrevivência têm melhorado para as crianças diagnosticadas com a doença graças aos melhores tratamentos e acompanhamento, especialmente em países desenvolvidos como os Estados Unidos.
Estima-se que as taxas de mortalidade por cancro entre crianças de 14 anos de idade, ou mais jovens, diminuíram 65% de 1970 a 2016 neste país.
No geral, mais de 80% das crianças com cancro sobrevivem 5 anos ou mais, mas a percentagem pode ser muito menor para alguns tipos específicos da doença.
A pesquisa é essencial para lidar com isso e aumentar as taxas de sobrevivência entre todos os tipos de cancro infantil que difere, e muito, do cancro de adultos.
Segundo as últimas estatísticas do National Cancer Institute, estima-se que cerca de 11 mil novos casos de cancro serão diagnosticados em 2019 nos Estados Unidos; destes, cerca de 1 180 crianças diagnosticadas acabarão por falecer.
As leucemias e os linfomas são os cancros mais comummente diagnosticados em crianças com 14, ou menos, anos de idade.
O que faz com que o cancro pediátrico se desenvolva é amplamente desconhecido, especialmente porque os fatores ambientais, que muitas vezes desempenham um papel no desenvolvimento do cancro em adultos, geralmente não são um fator nas crianças.
Uma mutação num gene que controla o crescimento celular é o que contribui para o desenvolvimento de todos os cancros. No entanto, as alterações genéticas que levam ao cancro em crianças diferem daquelas que o causa em em adultos.
Atualmente, a maioria dos tratamentos de cancro infantil envolve protocolos padronizados, que se traduz numa combinação de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, para os quais existem novos e melhores remédios, e métodos para ajudar as crianças a lidar com o problema dos efeitos secundários do tratamento.
Os tipos mais comuns de leucemia em crianças são a leucemia linfoblástica aguda e a leucemia mieloide aguda.
Em 2017, o regulador de saúde norte-americano (FDA) aprovou um tipo de imunoterapia chamada terapia de células T de recetor de antígeno quimérico para pacientes até 25 anos de idade cuja leucemia linfoblástica aguda não havia respondido bem a outros tratamentos ou recidivou.
A terapia, que modifica geneticamente parte do próprio sistema imune de um paciente – células produtoras de anticorpos chamadas células T – para combater o cancro, mostrou ser um grande sucesso em termos de remissão da doença em pacientes que tinham pouca esperança de outras terapias para tal desfecho.
O sucesso ajudou a aumentar estatisticamente a taxa de sobrevida global a 5 anos para casos de cancro infantil.
Infelizmente, enquanto os tratamentos avançados resultam na sobrevivência de mais de 80% das crianças, esses mesmos sobreviventes correm um risco vitalício de problemas de saúde – os chamados efeitos secundários de longa duração – que podem desenvolver-se meses, ou mesmo anos, após o tratamento.
Estes efeitos exigem um maior acompanhamento e uma maior vigilância para o resto das vidas destas pessoas, para que se possam identificar e tratar quaisquer complicações que resultem do tratamento anterior.
No Baystate Children’s Hospital temos uma clínica especializada nesses efeitos secundários tardios, onde fornecemos programas para sobreviventes de cancro infantil de forma a ajudar a garantir um tratamento e uma monitorização eficaz a longo prazo.
Texto redigido por Matthew Richardson, diretor da Ala de Hematologia/Oncologia Pediátrica do Baystate Children’s Hospital
Fonte: The Recorder