De acordo com a American Cancer Society, o cancro é agora a segunda principal causa de morte, depois dos acidentes, em crianças com menos de 15 anos.
Ainda assim, os peritos garantem que têm sido feitos grandes avanços no tratamento nas últimas décadas, avanços esses que melhoraram significativamente as taxas de sobrevivência ao cancro pediátrico.
“Hoje em dia, uma criança diagnosticada com cancro tem uma probabilidade de 85% de sobreviver 5 anos, ou mais, após o diagnóstico, um aumento de quase 30% por cento, quando comparamos a taxa de sobrevivência de 58% em meados da década de 1970”.
Matthew Hall, oncologista pediátrico no Miami Cancer Institute, nos Estados Unidos, afirma que isto “significa que 5 em cada 6 pacientes ficarão curados com as terapias atualmente disponíveis”.
Mesmo assim, garante o médico, este instituto continua a testar novos tratamentos potencialmente mais eficazes. Recentemente, num webinar, Matthew descreveu alguns dos ensaios clínicos na área da oncologia pediátrica que estão concentrados em melhorar os tratamentos e em prolongar a sobrevida dos pacientes mais jovens do instituto.
O médico referiu que muitos ensaios clínicos pediátricos se concentram em tumores de difícil tratamento, como sarcomas e gliomas pontinos intrínsecos difusos (DIPG), um tumor maligno letal diagnosticado apenas em crianças pequenas.
Matthew e outros especialistas estão particularmente interessados em reduzir o risco significativo dos efeitos secundários de longo prazo que os sobreviventes de cancro infantil podem desenvolver anos após o início do tratamento oncológico.
Os investigadores estão também a analisar ativamente novas maneiras de prolongar as taxas de sobrevivência e de melhorar a qualidade de vida de crianças com cancro.
“Estudos mostram que sobreviventes de tumor cerebral infantil têm um risco de 65% de desenvolver efeitos de tratamento de longo prazo que podem incluir déficits cognitivos, perda auditiva, anomalias de crescimento, infertilidade e até cancros secundários”, disse Matthew.
“O impacto que isso pode ter no desenvolvimento da criança é significativo, uma vez que hoje sabemos que mais de um terço dos sobreviventes não consegue terminar a escola ou ter um emprego a tempo integral.”
O médico tentou descrever vários ensaios, atualmente em andamento ou a serem concluídos em breve, que estão focados na redução da dose em estruturas críticas do cérebro, minimizando as toxicidades do tratamento e preservando a função neurocognitiva em sobreviventes de cancro infantil.
Terapia de protões vs. IMRT
“O primeiro ensaio”, começou por explicar o médico, “é um ensaio randomizado de Fase II que compara o uso de terapia de protões versus terapia de radiação modulada por intensidade (IMRT) em pacientes com diagnóstico de glioma mutado de IDH de grau 2-3, um tipo de tumor cerebral que é difícil de tratar.”
De acordo com o Mathhew, ambas as terapias são excecionalmente precisas.
“Se por um lado, a terapia de protões fornece raios de radiação de protões finos como agulhas diretamente para o tumor, poupando os tecidos saudáveis circundantes, a IMRT usa tecnologia avançada para manipular os feixes de fotões e protões de radiação para se adequar à forma do tumor”.
Proteger pacientes pediátricos com cancro cerebral
O segundo ensaio abordado usa a memantina – conhecida comercialmente como Namenda, um fármaco comummente usado para tratar os sintomas da doença de Alzheimer – para proteger o cérebro de pacientes pediátricos com cancro cerebral.
“Neste ensaio, a medicação oral – seja memantina ou placebo – é administrada durante 6 meses em crianças com idades entre os 4 e os 18 anos que estão a receber radioterapia craniana ou cranioespinhal para tumores primários do sistema nervoso central”.
“Por ter sido usado com sucesso para melhorar ou manter a função cognitiva de pacientes com doença de Alzheimer, estamos a investigar se esta medicação também oferece benefícios semelhantes a estas crianças”.
Poupar as estruturas críticas do cérebro
Embora a quantidade de radiação distribuída ao longo do tempo seja importante, os cientistas descobriram que o local onde a dose é administrada é ainda mais importante.
Ao abordar o terceiro ensaio em andamento, Matthew explicou que este tenta quantificar as mudanças temporais na anatomia do cérebro e nos volumes da subestrutura em crianças após a radioterapia craniana.
“Danos às células progenitoras neurais na zona subgranular do hipocampo estão relacionados com o declínio neurocognitivo induzido por radiação”, explicou o médico, observando que os pacientes estudados tiveram um declínio de 97% na formação de novos neurónios dois meses após serem submetidos a radioterapia craniana.
“Poupar as estruturas críticas do cérebro – especialmente o hipocampo, que é essencial para a formação de uma nova memória – é crucial para minimizar o declínio cognitivo”, concluiu.
Fonte: Baptiste Health