Uma forma agressiva cancro infantil, conhecido como neuroblastoma, pode vir a ser tratável com dois medicamentos atualmente usados no tratamento do cancro do cólon e dos ovários, de acordo com um estudo realizado por cientistas do The Institute of Cancer Research, no Reino Unido.
Os investigadores modificaram células de neuroblastoma em laboratório para silenciar um gene chamado ATRX, cujas mutações estão associadas a esta forma da doença oncológica resistente à quimioterapia, que costuma ser fatal em crianças.
Estas células com deficiência de ATRX foram particularmente sensíveis a uma combinação dos medicamentos olaparibe e irinotecano, que eliminou células cancerígenas ao impedir o reparo do ADN.
Em cobaias animais, tumores com deficiência em ATRX também foram sensíveis ao tratamento duplo, incluindo um derivado de tumor de neuroblastoma de uma criança.
A pesquisa, publicada na revista EBioMedicine, descreve um novo modelo para estudar o neuroblastoma e, acreditam os cientistas, pode levar a uma nova forma de tratamento.
Danos no ADN são a causa subjacente do cancro – mas também é um ponto fraco das células cancerígenas que podem ser exploradas para o tratamento.
Ao saberem que o gene ATRX ajuda a regular o reparo de danos no ADN em células saudáveis, os cientistas argumentaram que o bloqueio de outras vias de reparo do ADN no neuroblastoma pode deixar cancros com mutações ATRX com um nível fatal de danos ao ADN.
Usando uma técnica de edição de genes chamada CRISPR, os cientistas silenciaram o gene ATRX em células de neuroblastoma, para gerar um novo modelo da doença que poderiam estudar em laboratório.
Os cientistas observaram que o neuroblastoma com mutação em ATRX exibia falha num mecanismo de reparo de danos no ADN, intitulado recombinação homóloga, que repara quebras de fita dupla no ADN.
Para o estudo, foram testados cerca de 400 compostos que inibem o reparo do ADN em células cancerígenas, bem como fármacos quimioterápicos que danificam o ADN; os cientistas observaram que as células do neuroblastoma com mutação em ATRX eram sensíveis a um fármaco oncológico, o olaparibe, que bloqueia uma enzima envolvida no reparo do ADN. Este fármaco já é usado como tratamento para uma variedade de cancros em adultos e está a ser estudado em ensaios clínicos para outras formas de cancro infantil.
O tratamento com olaparibe foi particularmente eficaz quando combinado com a quimioterapia irinotecan, porque interferiu nos mecanismos de reparo de danos ao ADN já enfraquecidos pelo cancro.
O irinotecan e o olaparibe já estão a ser usados para tratar o cancro em pacientes adultos, portanto, os cientistas acreditam que a combinação pode ser rapidamente implementada no tratamento de crianças, caso os testes clínicos sejam bem-sucedidos.
“Esta pesquisa mostrou que a combinação destes dois medicamentos pode ser um tratamento eficaz para esta doença. Ambos os fármacos já estão a ser usados como tratamentos para outros tipos de cancro em adultos, portanto, se os ensaios clínicos bem-sucedidos, estes tratamentos podem estar disponíveis de uma forma relativamente rápida”, explicou o autor do estudo, Louis Chesler.
Fonte: The Institute of Cancer Research