Os cientistas que estudam uma das formas mais comuns agressivas de cancro infantil, o neuroblastoma, podem ter feito uma importante descoberta sobre o processo de progressão da doença.
O neuroblastoma é um tipo raro de cancro do sistema nervoso que afeta principalmente bebés e crianças pequenas.
De uma forma geral, o neuroblastoma tem início na glândula adrenal; ainda assim, aquando do diagnóstico, cerca de metade dos casos já sofreu metastização, principalmente nos ossos e medula óssea. Nesses casos, considerados de alto risco, a taxa de sobrevivência é de apenas 50%.
Nesta nova investigação, realizada pela Universidade de Newcastle, no Reino Unido, os cientistas estudaram as células de neuroblastoma que circulam no sangue e se espalham pela medula óssea.
De acordo com os investigadores, esta foi a primeira vez que as células tumorais do neuroblastoma circulante foram identificadas com esta especificidade.
A autora principal do estudo, Deborah Tweddle, acredita que as descobertas feitas pela sua equipa são “um grande passo em frente na tentativa de personalizar o tratamento do neuroblastoma”.
“Estar envolvida nesta investigação foi muito empolgante. Conseguimos compreender melhor o processo de disseminação do neuroblastoma e o porquê de alguns pacientes serem mais propensos a desenvolver uma doença de alto risco.”
Para a investigadora do recém-formado Newcastle University Centre for Cancer, “adequar o tratamento às necessidades de cada paciente” será possível num futuro próximo.
“Através de uma maior compreensão do neuroblastoma, esperamos conseguir melhorar as taxas de cura e garantir, para as crianças que sobrevivem, que a sua qualidade de vida seja a melhor possível após o tratamento”.
“O objetivo final é dar às pessoas com esta doença devastadora a melhor hipótese possível de sobreviver”.
Os cientistas recolheram amostras de sangue e medula óssea de pacientes em 5 centros de oncologia pediátrica que trabalham em Inglaterra e na Escócia. Ao todo, foram estudados 40 pacientes, 23 dos quais apresentavam um neuroblastoma de alto risco no momento do diagnóstico.
Publicado na revista Clinical Cancer Research, o estudo analisou as amostras usando equipamento especializado, conhecido como citómetro de fluxo de imagem; desta forma, os cientistas conseguiram contar o número de células tumorais circulantes no sangue e na medula óssea e rotular as células tumorais com um anticorpo contra uma molécula chamada GD2 presente nas células de neuroblastoma.
A terapia com anticorpos anti-GD2 é agora usada rotineiramente no tratamento de pacientes com neuroblastoma de alto risco.
Os especialistas também recolheram o plasma do sangue após a remoção das células e descobriram que ainda podiam detetar pequenos pedaços de ADN tumoral que, após serem realizados testes genéticos, se mostrou serem semelhantes ao do tumor principal.
“A nível mundial, este foi o primeiro estudo a usar este tipo de equipamento especializado para procurar células tumorais circulantes no neuroblastoma”, disseram os cientistas.
“Apesar de estar numa fase muito precoce, os resultados que obtivemos são muito promissores, pois mostram que é possível observar células tumorais e ADN tumoral a partir da mesma amostra de sangue. Ou seja, se for muito perigoso proceder a uma biópsia no tumor principal, podemos conseguir ter acesso a todas as informações genéticas de que precisamos através de um exame de sangue”.
Os cientistas esperam agora fazer novas pesquisas com base num número muito maior de pacientes.
Fonte: Medical Xpress