Neuroblastoma: ensaios clínicos permitem novas abordagens de tratamento

Desde o início dos anos 90, que a quimioterapia seguida de um transplante autólogo de células estaminais tem sido o tratamento padrão para o neuroblastoma de alto risco, um cancro infantil que tem início nas células nervosas fora do cérebro, especialmente nos tecidos das glândulas supra-renais e, às vezes, no pescoço ou peito.

Antes de as crianças receberem quimioterapia para tratar o neuroblastoma, algumas das suas células estaminais saudáveis ​​são removidas e armazenadas; posteriormente, essas células são devolvidas, ajudando a criança a resistir aos efeitos tóxicos da quimioterapia.

No entanto, a taxa de sobrevivência permanece baixa: a mortalidade em casos de neuroblastoma de alto risco pode chegar aos 50% e, aquando do diagnóstico, quase 70% dos pacientes já apresentam metástases.

No geral, o neuroblastoma é responsável por 10 a 12% de todas as mortes por cancro infantil.

Agora, um estudo publicado na revista JAMA, deu a conhecer uma nova abordagem, ainda mais intensiva, para a maioria das crianças com neuroblastoma de alto risco: administrar não um, mas dois transplantes autólogos de células estaminais.

Realizado pelo Dana-Farber / Boston Children’s Cancer and Blood Disorders Center, em parceria com o Seattle Children’s Hospital, ambos nos Estados Unidos, este transplante duplo permitiu que as crianças sobrevivessem durante mais tempo, sem que houvesse o aparecimento de novas doenças ou de recidiva, pelo menos durante os 3 anos de acompanhamento da investigação.

Os cientistas do Dana-Farber / Boston Children’s foram pioneiros na ideia de transplantes de células estaminais para o neuroblastoma, corria o ano de 1994. Primeiro, para tornar a abordagem viável, desenvolveram uma nova técnica para recolher células estaminais do sangue circulante de crianças muito pequenas.

Ao longo de uma década, a investigadora Lisa Diller e os seus colegas testaram e refinaram o tratamento com transplante duplo. Os resultados desse trabalho levaram o Children’s Oncology Group norte-americano a iniciar um ensaio clínico em 2007, com o nome ANBL0532, de forma a poderem comparar os resultados de as crianças serem submetidas a dois transplantes, com aproximadamente seis semanas de intervalo, contra um.

O estudo de fase 3 envolveu inicialmente 652 pacientes com neuroblastoma de alto risco; os pacientes tinham uma média de 3 anos de idade na altura do diagnóstico. Os pacientes foram submetidos a uma cirurgia e a seis ciclos de quimioterapia de alta dose. Após concluída essa fase, 355 pacientes foram elegíveis e consentiram participar numa próxima fase – onde foram designados aleatoriamente para receber dois transplantes autólogos de células estaminais ou apenas um.

A seguir aos transplantes, todos os pacientes foram submetidos a radioterapia.

A taxa de sobrevivência livre de eventos a 3 anos, ou seja, sem que os pacientes tenham sofrido uma recidiva, uma progressão da doença ou uma segunda malignidade, foi significativamente melhor no grupo de crianças que foi sujeita a um transplante duplo do que no grupo que foi sujeito apenas a um transplante (62% em comparação com 48%, respetivamente).

Cerca de 70% dos pacientes receberam imunoterapia direcionada, um tratamento padrão após o transplante. Dentro deste subgrupo, os pacientes que foram sujeitos a dois transplantes de células estaminais também tiveram taxas de sobrevivência a 3 anos melhores do que as crianças que foram sujeitas apenas a um transplante (73% em comparação com 55%, respetivamente).

Ainda assim, os cientistas alertam que os resultados podem não ser representativos de todos os pacientes com neuroblastoma de alto risco. Para além disso, os cientistas também observaram que a sobrevida global não foi estatisticamente diferente entre os grupos de transplante duplo e único, e que o benefício do transplante duplo pode não se estender aos pacientes tratados com diferentes esquemas quimioterápicos antes do transplante.

A equipa apresentou os resultados deste estudo na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em 2016. Desde então, o transplante duplo tem sido considerado o tratamento padrão em ensaios em andamento realizados pelo Children’s Oncology Group.

Os investigadores admitem que a terapia é uma provação desafiadora para as crianças, uma vez que inclui quimioterapia intensiva, cirurgias agressivas, transplante duplo, radioterapia pós-transplante e imunoterapia.

Emily Coughlin foi uma das pacientes que participou no ensaio clínico; a jovem esteve internada na unidade de terapia intensiva duas vezes durante o primeiro transplante; felizmente, o segundo foi um pouco mais fácil. Ainda assim, Emily sofreu vários efeitos secundários, incluindo perda da função renal e perda auditiva.

Felizmente, a sobrevivente desfruta hoje de uma boa qualidade de vida.

E esse é agora um dos objetivos dos cientistas.

“Enquanto continuamos a esforçar-nos para melhorar a sobrevivência, também devemos procurar maneiras de reduzir a toxicidade dos nossos tratamentos”, disseram.

Fonte: Medical Xpress

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